Figueiredo Correa, uma legenda

Neste ano, a família de Joaquim de Figueiredo Correa vai comemorar o centenário desse homem exemplar. Tive a honra de conhecê-lo pessoalmente e privar da sua amizade. Tudo ocorreu por ocasião das eleições para o Senado da República, no ano de 1970, quando ele concorreu com o senador Wilson Gonçalves, esse da minha cidade do Crato, e caririense como ele.

Na sua campanha, tive a oportunidade de percorrer, praticamente, todas as cidades do Cariri vencendo o pleito em Juazeiro do Norte, num grande feito de nossa parte.

Depois dessa convivência, nasceu uma grande amizade. Tanto que, nas eleições seguintes, ele se candidatou a deputado federal, e me consultou se eu aceitaria ser candidato em seu lugar, pois ele abriria mão de sua postulação. Como não aceitei, ele candidatou-se e foi eleito.

Já como deputado, ele contraiu uma enfermidade, que o levou à morte. Por sinal, fui lhe fazer uma visita. Nessa ocasião, a sua esposa Ivonete me disse: Humberto, Figueiredo não quer receber visita. Disse-lhe: Deixo então o meu abraço. Quando vou saindo, Ivonete me chama: Humberto, Figueiredo que lhe ver. Entro no quarto, ele aperta minha mão e começa a chorar. E eu também chorei. Ele disse: obrigado por tudo.

Ainda hoje os seus filhos guardam essas lembranças com o carinho que ele tinha por mim e eu por ele. Figueiredo foi uma das maiores expressões da política cearense, quer como político, quer como cidadão. A sua trajetória política teve início como deputado estadual em 1947, quando foi eleito aos 21 anos de idade e exerceu seis mandatos, e como deputado federal, três mandatos.

A sua investidura como vice-governador de Virgílio Távora, e a sua postura, foi a coroação dos valores, que o consagrou como cidadão exemplar. Uma das passagens mais significantes dos seus exemplos foi quando da Revolução de 64, um grupo de militares o procurou para assumir o governo com o possível afastamento de Virgílio do governo, dado sua ligação com o ex-presidente João Goulart. E ele prontamente declinou de tal oferecimento, abortando o que seria um verdadeiro golpe.

Virgílio, outro grande cidadão, cujo centenário comemoramos recentemente, e com muita saudade desse homem que, como Figueiredo, dignificam a vida pública cearense.
Virgílio e Figueiredo, dois homens singulares, coisa rara no Brasil de hoje, de quem tive a honra e o privilégio de ser amigo.

Humberto Mendonça

Empresário


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