Estagnação patente

A nova edição do quadro de desenvolvimento humano, que mede o bem-estar da população com base nos indicadores sobre saúde, educação e renda, manteve o Brasil na 79ª colocação. Com o IDH em 0,759, ele ainda está colocado entre os países de Alto Desenvolvimento Humano.

Quanto mais perto de 1, melhor é a situação do país, segundo o critério adotado do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento). Embora tal resultado não seja decepcionante, não há quase nada a celebrar, pois o desempenho nacional reflete a estagnação ocasionada pela crise econômica, que também trouxe onerosos prejuízos às conquistas sociais.

A última vez que o País avançou nessa classificação foi entre 2012 e 2014, quando conseguiu subir seis posições. Após esse período, a deterioração da economia, além de desgastar a renda, afetou a expectativa de vida e a escolaridade. Quanto à Educação, a área mostrou poucas alterações em 2017. Mas a média de anos de educação, que identifica a população adulta, teve alta insignificante de 7,6% para 7,8%. Observa-se ainda, que a explosão do desemprego obrigou milhões de jovens a abandonarem os estudos, em busca de oportunidade no mercado de trabalho, a fim de contribuir diretamente para a subsistência de suas famílias. A melhora na dimensão da saúde foi um dos fatores que asseguraram a posição do Brasil na classificação.

Isso porque a expectativa de vida do brasileiro vem aumentando constantemente e chega a 75,7 anos, média que se aproxima das nações mais ricas. Contudo, esse indicador poderia ser bem melhor não fosse a crise financeira que abalou a capacidade do poder público de combater a violência no trânsito, reduzir o assassinato de jovens e enfrentar as epidemias de várias doenças mortais.

Já em 2017, a renda nacional em relação a 2015 apresentou queda, que se manifestou em palpável redução do poder de compra da população.

Infelizmente, o Brasil figura como um dos campeões da desigualdade social, muito embora esse seja um fenômeno global. Se essa dimensão fosse considerada nesse levantamento, o Brasil despencaria, abruptamente, 17 posições no ranking. Entre as 189 nações avaliadas, ele seria o segundo que mais perderia colocações nesse cálculo. Com a inclusão das disparidades sociais, o índice de desenvolvimento humano brasileiro seria rebaixado de 0,759 para 0,578.

Não é surpreendente constatar que existe longo e árduo caminho a se percorrer, até que o Brasil consiga voltar a crescer, mas é imprescindível evitar repetir erros do passado. De 1990 até 2010, acumularam-se progressos que fizeram o IDH nacional evoluir. Nesse ritmo, garantiram-se boas transformações na agenda social, porém, o planejamento econômico não acompanhou a expansão desses ganhos. Nem ajudou a construir uma estrutura que pudesse dar suporte a essas dificultosas conquistas.

Em três décadas, a expectativa de vida registrou salto de aproximadamente 13 anos. Mas não foi aprovada uma Reforma da Previdência que possibilitasse aos cofres públicos atender à maior demanda advinda do crescimento no número de aposentados. O acesso à escola prosperou, no entanto, a preocupação com a qualidade do ensino não foi priorizada.

Retomar o crescimento da renda e expandir programas sociais são inviáveis quando não se garante o equilíbrio necessário nas contas públicas. Tampouco é exequível assegurar progresso sustentável do IDH sem levar adiante ações que conjuguem todos esses componentes.