Espírito de anjo ornado em trapos

Este, o verso primeiro de poesia do Padre Raimundo Augusto, completado com "Perambulando pela rua ao léu, / Companheira fiel até dos sapos, / Ela tinha por lar o azul do céu." (quadra inicial do poema "Maria Caboré", ode daquele pároco dedicado ao, talvez, mais querido personagem do Crato das décadas de 20 e 30 do século passado, publicado na revista Itaytera.

Filha de Caboré, coveiro, e Calumbi, roceira, moradores do distrito Matinha, Cícera Maria da Silva Almeida os viu morrer precocemente. Aluou-se. Deu-se a perambular na terra do Padre Cícero e ganhou a apelidação de Maria Caboré.

Morena, estatura mediana, utilizava uma espécie de turbante e adornada de miçangas.

Na Rua da Vala, hoje Tristão Gonçalves, onde mais vivia, supria as casas com água, retirava o lixo, servia de recadeira e, em troca, ganhava alimentação, roupas usadas e alguns trocados. Suas ética e lealdade, a toda prova, mereciam o respeito e a estima de todos. Honestidade e boa índole a complementavam.

No mundo ilusório era noiva do "Rei do Congo", a quem sempre dedicou fidelidade. Dizia-se católica, frequentava a Igreja e confessava-se. Certa feita, notou que o sacerdote vestia calça sob a batina. Surpresa, declarou nas andanças: "Vige Maria, padre é homi!".

Encontrou um feto num dos entulhos daquela via. Levou-o à Delegacia, entretanto, não envolvendo ninguém, alegou haver esquecido o local.

Vítima da peste bubônica que, em 1936, afligiu a cidade, foi interna no hospital improvisado no Seminário Diocesano São José, quando "faleceu piedosamente com a morte exemplar de um justo", asseverou Padre Augusto.

Para muitos cratenses e, até, nascidos noutras localidades caririenses, Maria Caboré é considerada espírito milagreiro. Seu túmulo, no Cemitério N. S. Da Piedade, possui visitação frequente durante o ano, destacando-se no Dia de Finados.


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