Efeitos do avanço do mar

Surge um estudo técnico, de qualidade, produzido pelo Instituto de Ciências do Mar, sobre o avanço do mar. Depois de avaliar os 573 quilômetros de faixa litorânea, sua conclusão é preocupante porque parte desse patrimônio natural poderá sumir, nos próximos dez anos, se não forem adotadas medidas destinadas a conter a progressão das ondas. O problema é antigo; o que há de novo é seu agravamento.

A erosão costeira, para a instituição de pesquisa, tem múltiplas causas. A ocupação desordenada da faixa atlântica, especialmente, é responsável por, pelo menos, 70% dos problemas atuais. Depois, como complementares, aparecem os fatores climáticos porque, no Ceará, Rio Grande do Norte e no Maranhão, o vento provoca maior impacto nas praias do que a elevação do nível do mar resultante do degelo.

Na raiz do problema, o vento retira a areia das praias para a formação das dunas, reforçando a erosão. Em virtude desse efeito, o nível do mar sobe, sazonalmente, 1,2 metro a cada ano. As consequências dessa ação da natureza estão visíveis em 90% do território do Estado, sendo encontradas, também, nas demais cidades litorâneas do País, constatação suficiente para o desencadeamento de medidas de proteção das praias.

No Ceará, especificamente, o problema afeta as praias nos dois sentidos geográficos. No litoral leste, o problema de maior gravidade concentra-se nas praias da Caponga, em Cascavel, e em Barreira, no município de Icapuí, este, ameaçado de desaparecer, no prazo de 50 anos, se as áreas erodidas não forem recuperadas. No litoral oeste, o fenômeno é mais grave nas localidades de Morgado, no município de Acaraú, e no distrito de Icaraí, em Caucaia.

No litoral de Caucaia, a situação é mais complexa por haver sido afetado pela construção do Porto do Mucuripe, iniciada na década de 30 e somente concluída nos anos 60. A localização do porto construído em Fortaleza impede, em grande parte, o fluxo de areia para as praias do oeste.

Os efeitos são visíveis: uma faixa de praia de 120 metros, resistente até 1997, há quatro anos vem desaparecendo. As praias do Pacheco e dos Dois Coqueiros, entre o Icaraí e a Barra do Rio Ceará, são arroladas como desaparecidas pelos efeitos do mar.

No Icaraí, surgiu a esperança de recuperação da orla engolida pelas ondas. Para conter a ação destruidora, está sendo aplicada no trecho de 1.370 metros uma técnica de regeneração de áreas degradadas conhecida por "barramar". Ela consiste numa argamassa especial petrificada à medida do avanço das ondas. A barreira de cimento impede que no refluxo as ondas levem a areia da praia. Os primeiros efeitos são auspiciosos para a obra de custo relativamente baixo.

Cascavel, no litoral leste, vem programando intervenção numa faixa de praia de 2.700 metros, com obras estimadas em R$ 1 milhão, financiadas pelo governo federal, a exemplo da contenção do Icaraí. Entretanto, a gravidade do problema exige ação de maior porte, integrada pela União, Estado e as administrações locais atingidas pelo avanço do mar, antes que seja tarde. As áreas de lazer da extensa faixa atlântica brasileira não podem desaparecer.