Efeitos do atentado

Conforme os boletins médicos, o candidato a presidente da República, Jair Bolsonaro, está com a situação clínica estável, depois de se submeter à delicada operação no aparelho digestivo, causada pelo ataque à faca sofrido durante uma manifestação popular em Juiz de Fora, Minas Gerais. O candidato do PSL já foi transferido para um hospital de São Paulo, onde continua sob intenso tratamento.

O criminoso foi preso em flagrante e quase linchado no momento da agressão. À primeira vista e de acordo com as investigações preliminares, se trata de um ato isolado de um psicopata, de ideologia divergente e com ideia fixa de receber instruções divinas. Menos mal. Porque seria pior se estivesse evidente no atentado qualquer indício de participação de grupos políticos concorrentes na disputa presidencial.

De imediato, todos os candidatos ao cargo manifestaram repúdio contra a violência perpetrada, assim como as mais altas autoridades do País, a começar pelo presidente Michel Temer e a presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ministra Rosa Weber.

A política, todos sabem, desperta paixões e essas paixões muitas vezes se transformam em ódios, abrindo as portas para a violência física. No mundo todo, já foram registrados eventos dessa natureza, valendo sempre relembrar a figura histórica de Mahatma Gandhi, líder supremo da independência da Índia, que foi morto em plena rua porque pregava a não-violência política.

O próprio candidato Jair Bolsonaro, em depoimento gravado no leito do hospital, disse que sabia do risco de ser vítima de agressão, mas não acreditava que ela viesse a ocorrer. Na verdade, ele como todos os demais candidatos ficam muito expostos a gestos tresloucados quando fazem campanha corpo a corpo com o eleitor nas vias públicas. A segurança deles sente dificuldades de protegê-los no meio da multidão de correligionários e curiosos.

O pronto atendimento médico evitou o pior, que seria a morte de Bolsonaro. O País ficaria traumatizado, porque tiraria da corrida presidencial aquele candidato que estava na frente da corrida segundo as pesquisas de intenção de voto.

Mas o fato provoca uma reviravolta na campanha eleitoral que, apesar de sua imprevisibilidade, seguia dentro do ritmo de normalidade. Aconteceu o chamado imponderável em política, aquilo que acontece de repente e pode mudar o rumo dos acontecimentos.

O próprio Jair Bolsonaro, pelo menos temporariamente, estará fora da campanha e esta deverá ser redefinida pela sua equipe. Quem o substituirá nos programas e na agenda de trabalho? Quem falará por ele? A sua ausência física pode ser compensada pelo noticiário intenso com o seu nome em todos os veículos de comunicação. Além disso, no papel de vítima, ele pode despertar o natural sentimento de solidariedade do eleitor.

As mesmas graves dúvidas pairam sobre as campanhas dos demais candidatos. Todos eles hão de reformular o conceito ou a própria base de suas estratégias diante do fato. Alguns deles, como Geraldo Alckmin, centrou sua campanha diretamente nos chamados pontos frágeis de Bolsonaro. Talvez esse apelo não mais tenha sentido. O lançamento do substituto de Lula na campanha do PT perderá o protagonismo na mídia.

A nova situação há de determinar também a mudança do discurso. As palavras pacificação e conciliação podem entrar com mais frequência nas mensagens. Mas a campanha eleitoral continua tão imprevisível quanto antes do atentado.