Editorial: Tradição a ser mantida

Mais de um século separa o presente da mais recente contenda militar, envolvendo o Brasil e países vizinhos na América do Sul. Tempo de calmaria que terminou por cristalizar a fama internacional de nação pacífica, da qual se orgulham os brasileiros. Portanto, inspira preocupação o caso da Venezuela, país fronteiriço que atravessa grave crise democrática e se vê num imbróglio internacional, com um número crescente de nações deixando de reconhecer a legitimidade da presidência de Nicolás Maduro.
O Brasil, assim como os vizinhos Argentina, Chile, Colômbia e Equador, e mais de uma dezena de nações, incluindo, Estados Unidos, Israel, Reino Unido, Espanha, Alemanha e França, já reconhecem o líder da Assembleia Nacional da Venezuela, Juan Guaidó, como presidente interino do país. O exército, contudo, ainda sob o comando Nicolás Maduro e sua ordem foi o suficiente para fechar a fronteira com o Brasil.

Analistas internacionais veem nos Estados Unidos, aliado do Governo brasileiro, disposição para uma intervenção bélica na Venezuela. O caso inspira preocupação, e autoridades militares do Exército brasileiro já disseram a participação do País em um embate bélico está fora de cogitação, a menos que o Brasil se veja obrigado a responder a alguma agressão vinda de fora.

Vai distante o tempo que se viu o Brasil em guerra com países vizinhos. Em meados do século XIX, o então império mobilizou tropas em confrontos no Cone-Sul, pelo domínio de áreas de seu próprio território e de regiões pertencentes à Argentina, Paraguai e Uruguai. Crises regionais não deixaram de irromper, mas foram habilmente resolvidas com soluções diplomáticas.

A última guerra em que o Brasil se viu envolvido tinha seu campo de batalha no outro lado do Oceano Atlântico. E a entrada do País na Segunda Guerra Mundial, lutando junto com os Aliados, foi determinada por agressões, protagonizadas por forças do Eixo, a embarcações brasileiras em águas nacionais.
A vocação à paz não impediu que as Forças Armadas brasileiras atuassem, sob ordens da autoridade máxima do País, o chefe do Executivo, em território nacional, para conter ações de grupos separatistas, oposição política armada.

Nas últimas décadas, o Brasil mobilizou suas Forças Armadas, no que diz respeito a atividades bélicas, frequentemente, em três sentidos: o resguardo das fronteiras nacionais; o combate ao crime organizado, em momentos de grave crise da segurança pública nos estados; e, principalmente, compondo missões de paz internacionais. 
Respeita-se, assim, a definição de Defesa Nacional, presente na “Estratégia Nacional de Defesa”. Conforme o texto, trata-se, pois, do “conjunto de medidas e ações do Estado, com ênfase no campo militar, para a defesa do território, da soberania e dos interesses nacionais contra ameaças preponderantemente externas, potenciais ou manifestas”.

Liderança regional, o Brasil tem a contribuir, nessa e em outras crises, como sua tradição pacífica, sua vocação ao diálogo e sua habilidade diplomática, que remonta aos tempos do célebre polímata Ruy Barbosa. O povo brasileiro se orgulha dessa disposição do espírito da nação e espera que décadas de paz não sejam interrompidas.


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