Editorial: SETEMBRO AMARELO

Na linguagem do trânsito, o amarelo é a cor que pede atenção, pois antecede a ordem para parar. Não à toa é ela que colore o mês corrente, em mais uma edição do Setembro Amarelo. Pede-se, portanto, atenção, por parte de quem transita pela vida. A campanha visa realizar ações de conscientização sobre a prevenção do suicídio. Há quatro anos, diferentes esferas sociais brasileiras, públicas e privadas, buscam promover campanhas educativas, em especial as que tratam de questões de saúde mental, além de dar destaque ao trabalho de instituições especializadas que oferecem ajuda a quem precisa.

A campanha foi criada pela Associação Internacional para Prevenção do Suicídio e trazida ao Brasil pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), referência no atendimento - inclusive remoto - a pessoas em crise, e pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O mês foi escolhido por já ter um histórico de ações voltadas à causa.

O Dia Mundial da Prevenção do Suicídio é celebrado, anualmente, em 10 de setembro. É organizado pela Associação Internacional para a Prevenção do Suicídio e tem a Organização Mundial da Saúde (OMS) como copatrocinadora. O objetivo é conscientizar pessoas e instituições, pelo mundo, de que a morte voluntária é um mal que pode ser evitado.

Articulações e colaborações entre países são fundamentais, dada a natureza global deste desafio. As estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) projetam 800 mil casos anuais, em todo o mundo. No Brasil, em média, são registradas 12 mil ocorrências por ano. Globalmente, isto significa que há uma morte por suicídio a cada 40 segundos.

Questão das mais complexas, a morte voluntária já ocupou filósofos desde a Antiguidade. Discuti-la, em geral, implica percorrer caminhos que vão da ética à espiritualidade. Mas é como caso de saúde pública que o suicídio é tratado no Setembro Amarelo. Ainda que existam casos pontuais, em que o ato fatal é desencadeado por um infortúnio pessoal e pontual, muitas vezes de máxima gravidade, a maioria dos casos está ligada a quadros de transtornos mentais tratáveis, caso de depressão, transtorno bipolar afetivo, esquizofrenia, quadros psicóticos graves e alguns transtornos de personalidade.

Fundamental para reduzir o número de mortes voluntárias é investir no esclarecimento sobre o tema. Por décadas, a própria imprensa evitou a temática, pois acreditava-se num chamado Efeito Werther, nomeado a partir de um caso, no século XVIII, no qual teria se observado uma onda de suicídios influenciados por um clássico literário do alemão Johann Wolfgang Von Goethe. Temer um possível contágio de ideias, por tempo demasiado, deixou o suicídio relegado à condição de tabu.

Problemas, sejam quais forem suas naturezas, precisam ser encarados para que se os enfrente e, também, se os supere. A morte autoinfligida, quando associada a quadros de transtornos mentais tratáveis, é um desafio social, ainda que pareça uma questão eminentemente pessoal. Combatê-la requer a atuação de profissionais e instituições especializadas. O primeiro passo, e talvez o mais importante, é ter atenção, para consigo e para com o próximo, e não se deixar imobilizar por velhos tabus.


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