Editorial: Renovação da vida

A soma de esforços entre representações expressivas da sociedade, capazes de elaborar mensagens e de obter respostas do cidadão, atestou nesta semana um ganho superlativo: o Estado do Ceará realizou 1.536 transplantes de órgãos e tecidos em 2018, alcançando o segundo melhor resultado da história. Os dados foram divulgados pela Central de Transplantes do Ceará, vinculada à Secretaria da Saúde do Estado.

Não se alcançariam indicadores tão positivos se faltasse o empenho coletivo em favor da conscientização, do respeito e da partilha. E se não se apoiassem estruturas decisivas, como a Central Nacional de Transplantes e suas correlatas nos estados.

Transplante é o procedimento cirúrgico que se configura na reposição de um órgão ou tecido de uma pessoa doente – o dito “receptor” – por outro órgão ou tecido em condições normais de um doador, seja vivo ou morto. O diagnóstico de morte encefálica, emitido por médico, é condição sem a qual não se pode realizar o procedimento.
Chegou-se em 2018 ao quantitativo de 17 operações a mais do que no ano anterior, quando se havia registrado a realização de 1.519 procedimentos de tratos distintos. Só no que se refere a transplantes de fígado foram 211, experimentando crescimento de 4,9%.

Torna-se necessário, então, realçar iniciativas como o movimento Doe de Coração, idealizado em 2003 pelo chanceler Airton Queiroz e empreendido pela Fundação Edson Queiroz com o objetivo de amparar no Ceará as doações de órgãos, já chegando à 17ª edição. Propostas assim fazem a diferença, engajando educadores, educandos, técnicos, profissionais de segmentos diversos, empresas e formadores de opinião, e são merecedoras de réplicas em outros locais.

Há dois tipos de doadores. Um é o doador vivo. Esse pode doar um dos rins, parte do fígado, da medula óssea ou do pulmão, desde que não prejudique a própria saúde. Parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores vivos, conforme a legislação. Não parentes, somente podem ser doadores com a devida chancela judicial. O outro é o doador falecido, que pode ser paciente com morte encefálica.

O destaque do qual é digna a ação se faz a propósito de um dos momentos mais graves por que já passaram a segurança pública e, por extensão lógica, a sociedade cearense. O fortalecimento de vida e da esperança é, a rigor, um contraponto para a violência e um alicerce sólido para a tese de que novos e proveitosos dias são possíveis se houver responsabilidade, compartilhamento, amizade e consideração aos demais.

Cabe ressaltar que entre os anos 2003 e 2017 houve no Ceará aumento de 261,19% em transplantes, obtendo-se em termos absolutos um marco superior a 15 mil cirurgias, o que se reflete na alta qualificação de expertos que integram equipes médicas. Ganham-se, então, elementos adicionais num contexto já bastante abrangente: a formação e a especialização profissional.

No entanto, o fato que se põe além de outros é a nova chance de viver e de produzir que se dá a cidadãos de condições distintas, pessoas de idades diversas que podem contribuir com o desenvolvimento da coletividade, com a renovação de expectativas e, sobretudo, com a solidariedade humana.


Assuntos Relacionados