Editorial: Recuo na inovação

Inovação é a palavra da vez num momento singular da história, quando o tempo parece acelerado. Mudanças são operadas de forma vertiginosa e novos hábitos estabelecidos, quase sempre com ajuda de tecnologias vocacionadas à universalidade, que se fazem presentes no cotidiano de largas parcelas da população. No campo da administração, seja pública ou privada, é considerada uma competência indispensável às organizações.

Merece, pois, atenção a notícia de que o Brasil perdeu posições no ranking global inovação, de acordo com dados divulgados da edição de 2019 do Índice Global de Inovação (IGI). O estudo é realizado pela Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI), uma das 16 agências especializadas das Nações Unidas (ONU).

O levantamento considera dados de 129 países, de todos os continentes, e é divulgado anualmente desde 2007. Referência global, o IGI serve de referência para que gestores públicos entendam melhor os cenários internacionais e encontrem formas suficientes de estimular atividades de inovação, por meio de políticas públicas, dado que ações na área são consideradas um dos principais impulsionadores do desenvolvimento econômico e social.

A pesquisa leva em conta 80 indicadores. São avaliadas desde medidas tradicionais, como investimento em pesquisa e desenvolvimento e aplicações de patentes e marcas registradas, até indicadores mais recentes, caso da criação de aplicativos para smartphones e exportações de produtos de alta tecnologia. Para estabelecer o ranking, a OMPI examina os contextos econômicos global e local.

O Brasil desceu dois degraus, de um ano para o outro, passando a ocupar o 66º lugar entre as nações avaliadas. A posição não foi suficiente para garantir espaço para o País entre as lideranças da região em que está inscrito - América Latina e Caribe. Chile, Costa Rica e México ocupam, nesta ordem, as três primeiras colocações nesta parte do mundo.

Não é simples o caso brasileiro. A despeito da colocação desfavorável, o País apresenta indicativos que atestam uma estrutura ainda robusta em diversos setores importantes para o campo da inovação. O Brasil ainda é a maior economia da América Latina e Caribe, destacando-se competitivamente em investimento em pesquisa e desenvolvimento, presença de empresas globais, publicações científicas e universidades de qualidade, tanto no setor público como as pertencentes à iniciativa privada. O País é o único desta região do globo a possuir centros de tecnologia e ciência entre os 100 melhores do mundo.

Inovação, no campo dos negócios, é o ato de atribuir novas capacidades aos recursos existentes para gerar riqueza. Em tempos de instabilidade econômica e de desemprego em alta, é fácil entender por que o País precisa dela. Conter gastos públicos em momentos assim é medida inevitável, mas indicativos como o da pesquisa da OMPI alertaram para áreas fundamentais que exigem cuidado especial. A equação exige expertise na área, para se evitar recuos que, social e economicamente, prometem se provar demasiado onerosos, no futuro próximo.


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