Editorial: Prioridades do Governo

A campanha e, até o momento, o Governo Jair Bolsonaro são vistos com interesse por especialistas por conta da forma pouco ortodoxa e ousada de articular comunicação e política. A preferência por se pronunciar sem mediações dos canais de mídia tradicionais, se valendo de redes sociais e, como é próprio delas, buscando engajamento de seus seguidores, tem inspirado outros atores políticos, em busca de uma fórmula de sucesso para se destacar – ou mesmo sobreviver – nestes novos tempos.

Se os meios se transformam, se reinventam e abrem espaço para outros, que despontam de forma inesperada em terreno digital, há também constantes que dizem respeito ao processos comunicacionais e que não podem ser subvertidos. Como a política trata sempre do coletivo, não é possível concebê-la sem comunicação e para que esta possa ser considerada enquanto tal, precisa respeitar determinadas regras.

O Governo precisa evitar ruídos. O conceito traduz toda perturbação indesejável, por parte do autor da mensagem, em qualquer processo de comunicação, que pode provocar danos ou desvios na apreensão daquilo que se pretendia expressar. Pautas como a da reforma da Previdência exigem atenção redobrada, não apenas das equipes de especialistas do Ministério da Economia autoras do texto que, com aprovação do Presidente da República, será enviado ao Congresso Nacional.

O discurso do Governo, dito e repetido em um sem número de ocasiões, é da urgência e do imperativo de se fazer reforma-mãe, da qual dependem as demais que Bolsonaro prometeu levar adiante. Sem conter o déficit previdenciário, não seria possível remediar o rombo nas contas públicas, reverter a crise e devolver ao Brasil o protagonismo para o qual o País tem vocação.

Apesar disso, a reforma da Previdência não entrou nas “Metas nacionais prioritárias”, que constam na “Agenda de 100 Dias de Governo”, divulgadas no fim de janeiro. Ao Ministério da Economia são confiadas outras cinco ações. Estas vão desde medidas claras e, por difíceis que sejam, exequíveis dentro do prazo estipulado, como a redução da máquina administrativa, com extinção de 21 mil funções comissionadas e gratificações; até outras, mais vagas e só mensuráveis a médio prazo, como a intensificação do processo de inserção econômica internacional.

Enquanto isso, a reforma previdenciária continua na pauta do dia, alimentada por rumores de que seguiria este ou aquele caminho, que teria tais e tais efeitos sobre determinada fatia da sociedade. Tudo isso causa reações, como mostrou recente reunião de governadores do Nordeste em Brasília. Na pauta, a reforma da Previdência que, salvo a equipe do Governo, ainda ninguém viu.

Pensando em se preservar de desgastes, inevitáveis com uma mudança tão grande como a que exige o ajuste da Previdência, o Governo protela medidas que visam o aumento da produtividade, a redução/simplificação de impostos e a geração de empregos. Estas, saliente-se, são prioridades para um País que enfrenta uma crise severa desde 2015. 

Bolsonaro conseguiu algo difícil: conquistar a confiança. Precisa conduzir seus trabalhos de forma a não ter que enfrentar uma provação bem maior: recuperar a confiança que venha perder.