Editorial: Pressão e crescimento

Por um lado, crescimento econômico; por outro, turbulências fiscais e monetárias – e, poderia se adicionar, políticas. Esse é o quadro previsto para o Brasil, nos anos de 2019 e 2020, e presente no relatório Situação e Perspectivas Econômicas Mundiais, divulgado pelo Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (Desa) da Organização das Nações Unidas (ONU). 

Com a melhoria da confiança do consumidor e o fortalecimento do mercado de trabalho, a atividade econômica brasileira deverá ganhar força em 2019-2020, conforme os analistas da Desa/ONU. A pesquisa estima que o Brasil terá crescimento de 2,1% nesse ano e um pouco maior, com 2,5%, em 2020. São previsões mais animadoras do que o 1,4% calculado para o ano passado. Em 2018, diz o documento, a tendência de recuperação da severa recessão instalada a partir do biênio 2015-2016, já verificada em 2017, sofreu uma desaceleração. Os principais motivos teriam sido a quebra de braço entre o Governo Michel Temer e os caminhoneiros, o fortalecimento do dólar, dentre outros fatores externos.

O percentual de crescimento esperado pela ONU para o Brasil é menor do que o da média mundial projetada. O crescimento global, nesse ano e no próximo, deve repetir o desempenho de 2018 e ficar próximo a 3% ao ano. Ainda assim, o País tende a ficar acima da média da América Latina e Caribe – projetada para marcar 1,7%, em 2019, e chegar a 2,3%, em 2020. O Brasil teria um desempenho similar aos dos Estados Unidos, que devem ver o PIB aumentar 2,5%, nesse ano, e 2%, no próximo; e bem distante da cada vez mais poderosa China, com desempenhos para o biênio previstos em 6,3% e 6,2% (e, importante salientar, ambas as performances abaixo da registrada em 2018, quando o PIB do gigante asiático cresceu 6,6%).

O relatório da ONU é um demonstrativo da confiança internacional no Brasil, num período marcado por tensões e percalços não apenas para o País. Mas, é evidente, não se trata de uma previsão de voo tranquilo em céu de brigadeiro. “Dadas as necessidades prementes de ajuste fiscal e um aperto esperado da política monetária, o ritmo da recuperação provavelmente permanecerá moderado. Ao mesmo tempo, gargalos estruturais persistentes, como baixa taxa de poupança e déficits generalizados de qualificação na força de trabalho, restringirão o crescimento no médio prazo”, pontua o texto da Desa/ONU.

O caso brasileiro é semelhante ao de outros países da região, com dívidas muito altas em relação ao PIB. A dívida bruta do Governo brasileiro já chegou a 88% do PIB. Trata-se de uma condição de fragilidade que impõe desafios complexos a qualquer plano de recuperação, que deve estar atento a turbulências transnacionais. 

A saída está ligada a medidas das equipes econômicas e de relações exteriores. Exige capacidade política de se manter firme diante das pressões, internas e externas, para realizar as reformas necessárias e otimizar os investimentos públicos. As Nações Unidas ainda recomendam o fortalecimento das abordagens multilaterais, para evitar os desgastes da escalada de disputas comerciais, a instabilidade fiscal provocada pelas dívidas elevadas e os crescentes riscos de eventos climáticos extremos.


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