Editorial: Pensando grande

Em oito anos, foi registrado um aumento de 23%  de novas infecções por HIV no Brasil. No ano passado, contudo, observou-se uma queda no número de diagnósticos. No Ceará, o indicativo de novos casos ficou em 976, ele representa uma redução significativa, quando comparado a 2017, com registros de um total 1.755 casos da doença no Estado. Os avanços precisam ser mais vigorosos, dado a oscilação da epidemia quanto à abrangência do contágio.

Eliminar a Aids como uma ameaça para a saúde pública até 2030. A ideia é ousada, e se levada em conta as dimensões da epidemia mundial, iniciada no começo dos anos 1980, parece uma meta inatingível. Mas a proposta veio de uma instituição respeitada no trato com a questão. A meta foi defendida por Carissa F. Etienne, diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e diretora regional para as Américas da Organização Mundial da Saúde (OMS), em conferência da Sociedade Internacional de Aids, em curso na Cidade do México.

Ainda que inexista uma cura definitiva para a doença, os tratamentos disponíveis são capazes de garantir qualidade de vida para os pacientes. São eficientes também as formas de prevenção, sobretudo no que diz respeito à contaminação por via sexual, minimizam os riscos de se expor ao contágio. 

Os progressos no campo da ciência são notáveis, mas insuficientes para debelar as investidas da doença. Há um trabalho social forte a ser realizado, para que se obtenham os resultados almejados. Passa por medidas clínicas, mas também por ações educativas, combate ao preconceito e a criação de um ambiente de esclarecimento, que potencialize o uso de todos os recursos disponíveis contra a Aids.

São duas frentes que demandam atenção, de ações paralelas e articuladas, de forma que uma amplie o alcance da outra. A primeira é a científica. Os governos, alinhados com a política de saúde sistêmica e integrada da OMS, devem investir mais em pesquisas, tendo em vista a descoberta de métodos e substâncias que melhorem a efetividade da prevenção, o resultado do tratamento, o desenvolvimento de técnicas e tecnologias laboratoriais e o uso de plataformas para o diagnóstico dos pacientes. 

Os ganhos não são pontuais e exclusivos daqueles que se empenham em pesquisas do gênero. Contudo, dada a dimensão do desafio, não se pode esperar sempre que venha do outro as inovações e melhorias. Requer investimento maciço e cooperação internacional, o que, a depender da situação econômica de uma nação, pode não ser algo fácil de se conseguir.

A outra frente também requer recursos de grande monta, no entanto, depende de algo que não é financeiramente mensurável: capacidade administrativa. Combater a Aids passa pela aplicação do acesso e cobertura universal de saúde, articulada com ações voltadas à promoção de direitos humanos. 

O estigma é um mal que não apenas aflige aqueles que vivem com a doença, como dificulta a promoção de métodos preventivos e o diagnóstico precoce – essencial para a qualidade de vida daqueles que descobriram ter sido contagiados. Combatê-lo deve ser prioridade, por meio de campanhas educativas e trabalho de esclarecimento com a população e compromisso ético de todos. 


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