Editorial: Para priorizar o Nordeste

A primeira viagem oficial do presidente Jair Bolsonaro ao Nordeste acontece nesta semana. A visita é pontual, ao vizinho Pernambuco, mas interessa ao Ceará. Espera-se que o chefe do Executivo anuncie um acréscimo de R$ 2,1 bilhões ao Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste (FNE), para ser usado em obras de infraestrutura. Assim, o fundo – operado pelo Banco do Nordeste (BNB), objetivando contribuir para o desenvolvimento econômico e social da região – passaria a dispor de R$ 25,8 bilhões.

No entanto, a pauta mais importante da visita de Bolsonaro promete ser o lançamento do Plano Regional de Desenvolvimento do Nordeste (PRDNE), elaborado pela Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Na ocasião, haverá uma reunião do presidente com 11 governadores, os nove da região, além dos chefes do Executivo do Espírito Santo e de Minas Gerais. O encontro também deve contar também com parlamentares nordestinos.

Pode-se dizer que o que traz o presidente a esta parte do País são os problemas comuns às suas unidades federativas. Aqui, vivem 27,5% da população do Brasil. Historicamente, o Nordeste tem limitações de ordem econômica e social, agravadas pelos ciclos de estiagem que se abatem sobre seu território. São os mesmos problemas de que se ocupam os governadores em âmbito local, e que, seguidas vezes, já na gestão Bolsonaro, motivaram reuniões deste bloco regional em Brasília. 

Há outra razão, implícita, que motiva tanto a visita de Bolsonaro ao Nordeste, quanto os encontros entre os gestores estaduais. Trata-se do descompasso político-partidário entre os governadores da região e Bolsonaro. Nenhum deles é filiado a partidos da base governista, e alguns têm posições abertamente contrárias às do presidente. No pleito de outubro do ano passado, o então candidato do PSL não foi o favorito dos eleitores região, e agora, como presidente, encontra nela baixo índice de popularidade – 40% dos nordestinos consideram o Governo ruim ou péssimo, conforme pesquisa divulgada pelo Ibope. 

Todos sabem que a visita não se presta a selar alianças. Mas a iniciativa serve para estabelecer a distensão e promover a aproximação que facilite as relações institucionais, criando um meio-termo capaz de superar as divergências. O presidente não pode ser avesso ao Nordeste, tanto por sua responsabilidade constitucional (ele é presidente de todos) como pelo peso político da região. E os governadores precisam dialogar com o Planalto e saber negociar com ele, igualmente pelos deveres que lhes cabem, e pela certeza de que, sem isso, a parceria não avança, e os estados saem perdendo.

Quando a parceria dá certo, a população sai ganhando. Um exemplo foi a parceria entre os governos do Estado e Federal para superar a crise da Segurança Pública que eclodiu no Ceará no começo do ano. Ali, diferenças partidárias foram postas de lado; o pedido de colaboração foi feito em tempo; e a resposta veio com agilidade. 
São as regras da política, que excluem posturas radicais e imprudentes. Devem ser observadas e respeitadas, pois não há resultados positivos fora delas, que não se alteram mesmo quando as forças são redistribuídas.