Editorial: Páginas em branco

A Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel conta mais de um século e meio de história. Foi fundada em 25 de março de 1867, como Biblioteca Provincial do Ceará (a denominação atual só viria a ser adotada no fim dos anos 1970). Pensando em sua longa história, pode-se afirmar que a presente década é um de seus momentos de menor brilho, quando deveria ser, justamente, o contrário. 

Fechada há cinco anos para uma grande reforma, a Biblioteca viu as obras acontecerem, mas sua reabertura ainda não foi oficializada pelo Governo do Estado do Ceará. Apenas uma parte de seu acervo está atualmente à disposição do público. O motivo: falta ser adquirida e instalada a mobília, especializada, para resguardar as obras e atender o público e os funcionários da Biblioteca. 

A Biblioteca é a maior do Estado e foi um importante ponto de referência para pesquisadores de diversas áreas, em especial da História do Ceará. Quando foi criada, dispunha de um acervo de 1.700 volumes e também fazia as vezes de Arquivo Público, resguardando documentação cartorial. Estava prestes a se fazer centenária quando foi criada, em 1966, a Secretaria da Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), responsável por sua administração. 

Atualmente, seu acervo é imensamente maior do que o inicial. Pertencem à instituição aproximadamente 132 mil obras, incluindo 10 mil livros raros. Parte desse acervo (50 mil volumes) está disponível na Biblioteca Pública do Estado Espaço Estação, equipamento provisório criado pela Secult-CE após o anúncio da reforma. Funciona no antigo galpão da Rffsa, ao lado da estação de trem João Felipe, no Centro de Fortaleza.

Problemas estruturais faziam necessária uma ampla reforma da Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel. Também já antiga era a intenção de integrá-la, arquitetonicamente, ao Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. Tais projetos atravessaram gestões até ganharem concretude, na forma de editais, convênios e obras. De fato, as coisas começaram a andar, mas estacionaram, e a situação atual é talvez mais precária do que antes da reforma. 

Reportagem publicada no começo do mês trouxe detalhes dessa situação de imobilidade e a informação de que a Secult-CE não teria uma data de reabertura de seu equipamento cultural. A questão de quando a nova mobília seria adquirida e instalada no local, permitindo sua reabertura e pleno funcionamento, ficou sem resposta. E, oficialmente, nada foi anunciado depois disso. Mesmo quando se fez o evento para dar detalhes acerca da XIII Bienal Internacional do Livro do Ceará, programada para acontecer em agosto, a questão não voltou à tona. Na festa do livro, ficou estranho não prestar contas do destino da Menezes Pimentel.

Ainda que, administrativamente, a biblioteca faça parte da Secretaria da Cultura do Estado, seu funcionamento é importante não apenas para as áreas “culturais”. É um importante equipamento de socialização, como tem sido explorado em muitos países, e educacional. Resguarda a memória e o conhecimento de seu povo e das culturas que com ele dialogam. O Ceará, que ostenta bons índices na educação pública, não pode negligenciar a situação da Menezes Pimentel, que, também simbolicamente, é grave.