Editorial: Os holandeses e os cearenses

Estado ficou na 3ª posição do Nordeste, atrás da Bahia e de Pernambuco, segundo Ministério do Trabalho

Desde 1987, o Governo do Estado do Ceará - independentemente de quem o lidere - tem mantido severo compromisso com a rigidez fiscal, gastando apenas o que permite sua arrecadação. Consequência: ao contrário da caótica situação financeira em que se encontram hoje estados importantes como o Rio Grande do Sul e o Rio de Janeiro, o Ceará mantém seus compromissos em dia e ainda lidera, porcentualmente, a relação investimento-receita corrente líquida. É uma grande vantagem comparativa de que lançam mãos grandes investidores no momento de decidir onde localizar seus projetos.

Foi essa vantagem que atraiu para cá a brasileira Vale e as coreanas Posco e Dongkuk Steel, que se associaram para construir, no Complexo Industrial e Portuário do Pecém, uma das mais modernas usinas siderúrgicas do mundo. Suas placas de aço são exportadas para dezenas de países dos cinco continentes. Brevemente, a CSP também produzirá aços planos, um sonho das indústrias locais de metalurgia e peças de automóveis e de produtos da linha branca. Pelo mesmo motivo vieram para o Ceará outras gigantes multinacionais como a Vestas - maior fabricante mundial de equipamentos - geradores, inclusive - para a desenvolvimento de energia eólica.

Para além do rigor fiscal, o Governo do Ceará soube - desde 1987, vale repetir - identificar suas prioridades. A decisão estratégica de construir um porto off-shore, capaz de carregar e descarregar todos os tipos de mercadorias, foi de uma extraordinária felicidade. O Porto do Pecém, com espaço infinito para ampliação e com profundidade suficiente para receber os maiores navios do mundo, está equidistante da Costa Leste dos EUA, da Europa e do Canal do Panamá. E foi esta a razão que atraiu o interesse da Autoridade do Porto de Roterdã, que se tornou ontem, oficialmente, sócio da CIPP S/A (ex-Cearaportos), de cujo capital participará minoritariamente e em cuja diretoria terá dois assentos. Os holandeses - que administram o maior porto europeu e um dos maiores do mundo - querem transformar o Porto do Pecém num grande centro de distribuição de cargas.

Paralelamente a esse hub marítimo que logo tomará corpo graças à expertise holandesa de Roterdã, o Governo do Ceará foi rápido também na interação com a alemã Fraport, que no ano passado venceu o leilão de privatização do Aeroporto Internacional de Fortaleza. Uma das gigantes mundiais da gestão de aeroportos, a Fraport foi decisiva para a instalação aqui do hub da Air France-KLM-Gol, cuja operação foi tão positivamente surpreendente, que outras empresas ampliaram o número de voos internacionais que partem e chegam à capital do Ceará.

Outro hub - o de telecomunicações, já em operação - será ampliado com o próximo funcionamento do Data Center da Angola Cables, um bilionário investimento que matriculará Fortaleza no fechado clube dos centros de excelência na área de telecom.

Encravado no semiárido, enfrentando as hostilidades da natureza, o Ceará - mais do que suas belezas naturais - tem uma matéria-prima inigualável: o cearense, em cuja vocação para o trabalho e em razão da criatividade têm apostado com êxito os investidores nacionais e estrangeiros.

O cearense e sua habilidade já foram capazes de transformar as poucas manchas agricultáveis da geografia estadual em polos de produção agrícola e pecuária, cujos produtos abastecem o mercado interno e ainda são exportados para exigentes mercados consumidores, como os da Europa, Estados Unidos, Canadá, Oriente Médio e Ásia. É essa gente trabalhadora e criativa que saúda hoje os holandeses de Roterdã, seus novos e benvindos parceiros de jornada.


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