Editorial: Os alimentos e a saúde

Alimentar-se de forma correta regularmente é uma das variáveis indispensáveis à equação que resultará numa vida saudável. Requer o interesse do indivíduo e seu compromisso com a manutenção de hábitos positivos, no sentido de consumir porções adequadas e variedade de alimento, de forma a suprir todos os ingredientes que atendam às necessidades do organismo. Mas há uma parte que cabe ao Poder Público nesse esforço de se adotar uma vida mais sadia, e internacionalmente coordenada que deve ser seguida por todos os países.

Dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) ajudam a dimensionar o problema global da alimentação incorreta, que junto à fome figura entre os principais desafios nutricionais que o gênero humano enfrenta. Um quarto da população do planeta sofre com deficiências de micronutrientes. Mais de 2 bilhões de adultos estão acima do peso. A projeção atual da FAO é de que o número de pessoas obesas vai ultrapassar, em breve, o número de famintos no mundo, estimado em 820 milhões.

O caso é considerado, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), uma pandemia. Entre os fatores que catalisam sua expansão está a urbanização acelerada, que favorece o consumo em grande escala de alimentos ultraprocessados. Altos níveis de gorduras saturadas, açúcares refinados, sal e aditivos químicos são encontrados nestes produtos; enquanto carecem de nutrientes e vitaminas essenciais ao bom desenvolvimento do organismo.

A recomendação do organismo internacional é de que os países adotem medidas para oportunizar ambientes mais saudáveis, mesmo nas grandes metrópoles, tendência urbanística que não deve ser contida nas próximas décadas. Para a FAO, o caminho passa pela adoção de políticas de estado, para incentivar e promover dietas saudáveis. Planos econômicos, novas leis e colaborações transnacionais estão entre os recursos a serem utilizados. 

Algumas medidas são explicitadas pelo organismo, como os estímulos ao setor privado a produzir alimentos mais nutritivos está entre as recomendações, com revisão de impostos sobre o que é produzido; adoção de modelos de rótulos de alimentos com linguagem e recursos mais acessível ao consumidor médio; e mesmo restrições à publicidade de determinados alimentos voltados ao público infantil. Deve-se investir, ainda, em campanhas de incentivo ao consumo de alimentos frescos.

Por fim, para a FAO, a superação desta problema de saúde global depende do esforço articulado entre países, que passa pela construção de acordos de comércio internacional capazes de influenciar os sistemas alimentares de uma maneira positiva, potencializando alternativas aos ultraprocessados.

O Brasil tem muito a fazer nesse sentido, dada sua importância global na produção de alimentos. Contribuir para a melhora de quadros como os mostrados pela FAO e OMS é de interesse da população do País, por conta dos ganhos em saúde e, consequentemente, na redução de custos com tratamentos médicos para doenças causadas ou agravadas pela obesidade e pela má nutrição. Com ações de grande porte do Estado, o empenho pessoal se torna mais fácil.


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