Editorial: Ocupar a cidade

A temporada de férias escolares é tradicionalmente movimentada em Fortaleza, aquecida pelos eventos que procuram atrair o público da cidade e os turistas que enchem a rede hoteleira em um dos períodos mais aquecidos do ano. Shows musicais, festas para grandes públicos, espetáculos de diversas linguagens cênicas, para as mais variadas faixas de público. Tudo isso se soma à vocação natural da Capital, em especial de sua relação com o mar.

Não é de hoje que a iniciativa privada movimenta o período, atenta a oportunidades de negócios rentáveis. Mesmo em tempos de crise, há demanda de entretenimento. O Poder Público, também, há muito sabe da importância da temporada para diversos setores e reconhece a necessidade de investir em programações que catalisem seus potenciais. Regiões com potencial turístico precisam ser estimuladas, reforçando seus atrativos e garantindo infraestrutura para que possam se desenvolver e, com isso, beneficiar a comunidade em que os negócios estão inseridos.

Recentemente, outras ações passaram a figurar, de maneira regular, na agenda pública para o período. Não são diretamente voltadas ao estímulo da economia local. No entanto, são capazes de ter consequências benéficas em mais de um setor capital para a vida em sociedade. É o caso do projeto Viva o Parque, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema).

O foco da ação são as áreas de Unidades de Conservação Estaduais, localizadas em Fortaleza. São centrais para a proposta de aproximar a população da natureza ainda presente em meio à metrópole. A estratégia passa por oferta gratuita de atividades de educação ambiental, esportivas e atividades recreativas. Explora-se o potencial dos locais, ideal para atividades ao ar livre. A programação aposta em públicos diversos, contemplando todas as faixas etárias, mas é notável a grande afluência de crianças e suas famílias.

O projeto é realizado nas manhãs de domingo. Recentemente, foram incluídos dois novos espaços: um no bairro Canindezinho, às margens do Rio Maranguapinho, e a Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) do Curió, na Lagoa Redonda. Ambas estão inscritas na periferia de Fortaleza, que historicamente carece de ofertas de lazer, com estrutura adequada e segurança garantida pelo Poder Público.

São oportunidades de se vivenciar o espaço que é familiar à população, mas nem sempre convidativo. Ações do gênero surtem efeitos a olhos vistos. O Parque do Cocó Área Adahil Barreto, reinaugurado há um ano, com boa estrutura física e policiamento constante, afastou o aspecto de abandono de outrora. Ganhou novos públicos e recuperou outros que havia perdido, pouco a pouco, e no primeiro fim de semana desta temporada de férias amanheceu concorrido. A imagem que se vê, em casos assim, é do cidadão se reconciliando com o lugar onde vive. Não é pouco diante da tendência, não de todo injustificada, de se propagar as mazelas que assolam o cotidiano do fortalezense.

Apostar nesse outro movimento da urbe, interno e até íntimo, favorece a ocupação da mesma - algo fundamental para garantir outros tantos avanços que se precisa, da movimentação dos negócios de rua à sensação de segurança em nossos logradouros.


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