Editorial: O risco do álcool

O álcool é uma droga lícita, comercializada e consumida em larga escala na maior parte das democracias modernas. Faz parte da própria cultura, e muitas vezes está inscrita nas próprias tradições locais, ocupando importante lugar em seu repertório de seus sabores. No Brasil, há regulações para sua fabricação e restrições à venda, em geral, relacionada à faixa etária.

Também disseminada é a dependência alcoólica. Subdiagnosticada, a doença tem seu tratamento dificultado pelo estigma que a cerca, o que atrapalha na aceitação do problema para que, então, se busque uma solução; e pela facilidade de acesso à bebida, o que potencializa recaídas. Dados do Ministério da Saúde mostram que o problema é expressivo e tem aumentado.

Do total da população adulta brasileira, 17,9% fazem uso considerado abusivo de bebida alcoólica. Considera-se abusiva a ingestão de quatro ou mais doses, para mulheres, e cinco ou mais, para homens, em uma mesma ocasião, nos últimos 30 dias. O percentual é 14,7% superior ao registrado no País em 2006 (quando pontuava 15,6%), no início da série histórica. As informações são da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), cujos últimos dados consolidados são referentes ao ano de 2018.

A pesquisa documenta diferenças drásticas no nível de consumo entre os gêneros. Os homens ainda bebem mais do que as mulheres – 26% fazem uso abusivo do álcool, contra 11%. Mas o crescimento do consumo entre as mulheres, num período de 12 anos, foi maior do que o observado entre os homens – a variação delas foi de 42,9%. 
Os indicativos masculinos e femininos seguem padrões mais semelhantes no que toca a faixa etária. O uso abusivo é mais frequente entre os jovens e, nos homens, é mais frequente na faixa etária de 25 a 34 anos – 34,2% do total são enquadrados nesta forma de consumo alcoólico. Entre as mulheres, as idades mais críticas estão no intervalo que vai dos 18 aos 24 anos (18%). Os menores percentuais são observados na população idosa – 7,2%, deles, e 2%, delas.

De acordo com especialistas, não há nível de consumo de álcool que seja isento de riscos. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em seus relatórios, tem alertado para os efeitos da substância, tóxico para o organismo, sobre o corpo humano, sendo causadora de doenças mentais, alguns tipos de cânceres, problemas hepático (incluindo a cirrose, comumente associada ao alcoolismo), alterações cardiovasculares e diminuição de imunidade. 

O álcool, em quantidade excessiva, também pode impulsionar episódios de violência contra si ou contra outras pessoas. É presença constante, por exemplo, nos casos de agressão à mulher. Para o trânsito, o País adotou política de tolerância zero para o uso de álcool por parte dos condutores, com pesadas sanções para desestimular as infrações.

É preciso que o Poder Público, em todas as suas instâncias, esteja atento para o aumento no consumo abusivo e aja no sentido de reverter esta tendência. Informação é essencial, no sentido de alertar a população para os riscos do descontrole alcoólico, alinhado com políticas de saúde pública que permitam diagnósticos rápidos e tratamentos eficientes.


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