Editorial: O risco da obesidade

Globalização da obesidade. Essa foi a expressão escolhida pelo chefe da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, em reunião recente com os ministros da Agricultura do G20, para traduzir uma alarmante crise de saúde pública mundial. E a tradução do problema é precisa: mais de 2 bilhões de pessoas no mundo estão acima do peso ideal, segundo parâmetros médicos. Destas, mais de 670 milhões são consideradas obesas.

A obesidade agrava os riscos de uma série de doenças crônicas, caso do diabetes, da hipertensão e dos problemas cardíacos - todas elas, amplamente disseminadas na população; além de alguns tipos de câncer.

Projeções da FAO apontam que o número de pessoas obesas ultrapassará, em breve, o daqueles que sofrem com a fome - hoje, são 821 milhões de indivíduos nessa situação em todo o mundo. Na América Latina e Caribe, o primeiro índice já superou o segundo.

O quadro brasileiro se alinha à tendência global. Pesquisa do Departamento de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do Ministério da Saúde, realizada no ano passado, identificou que 18,9% da população, maior de 18 anos, vivendo nas capitais brasileiras, é obesa. O porcentual é 60,2% maior que o registrado na primeira edição do levantamento, em 2006.

Para o sistema público de saúde, é um problema bastante oneroso. De acordo com o Ministério da Saúde, o País gasta próximo de R$ 17 bilhões, anualmente, com tratamentos e cuidados médicos de doenças catalisadas pela obesidade, a exemplo da asma e dos distúrbios cardiovasculares. No momento crítico para as contas públicas, deve ser de interesse do Estado investir no combate a esta epidemia, visto o duplo benefício que ações do gênero podem trazer.

Não se deve pensar que o poder público tenha condições de frear o problema da obesidade, sem o apoio da população. O papel desta é crucial e não pode ser desempenhado por outro agente. No entanto, as três instâncias da administração pública - federal, estadual e municipal - têm muito a fazer.

Isso inclui desde medidas em relação às regras para as informações impressas nos rótulos de alimentos, possibilitando que o consumidor tenha referências apropriadas para fazer escolhas mais conscientes; políticas que promovam o maior acesso a vegetais; e incentivem uma alimentação que valorize frutas e hortaliças no cardápio.

Ao cidadão, cabe a tarefa de se interessar mais sobre o tema, buscando informação e, a partir dela, se dedicando a hábitos mais saudáveis. Merecem particular atenção as crianças e adolescentes. A consequência desta desatenção pode ser atestada nos números da obesidade entre jovens, entre 18 e 24 anos.

Um terço das pessoas nessa faixa etária está com sobrepeso e 9% podem ser considerados obesos (um número mais de duas vezes maior do que o que foi registrado em 2006).

Comer de forma mais apropriada não é o único hábito saudável a ser estimulado e adotado. É importante que, desde a juventude, seja promovido o bom hábito da atividade física regular. Os resultados cada um pode sentir, já no presente e, com chances cada vez melhores, no futuro.


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