Editorial: O que vem pela frente

Causou nenhuma surpresa o anúncio feito pelo Banco Central de que o Produto Interno Bruto - a soma de todas as riquezas produzidas pelo País - neste exercício fiscal de 2020 será zero. Havia uma semana, o Ministério da Economia já rebaixara a previsão do PIB de 2,1% para 0,02%. A informação do Banco Central também é só uma estimativa, posto que - diante das danosas e ainda imprevisíveis consequências econômicas da pandemia do coronavírus - não será também surpreendente uma queda ainda maior do PIB. Alguns economistas chegam a projetá-lo em menos 2%.

O Brasil deverá enfrentar um período de recessão cuja dimensão será maior ou menor a depender não apenas do que acontece em seu território, mas também das consequências da crise sanitária na Ásia, na Europa e nos Estados Unidos - locomotivas da economia mundial. A China foi o primeiro lugar a registrar a Covid-19, ainda em dezembro, e só agora volta paulatinamente às suas atividades. Na Europa, a situação ainda é grave, enquanto os EUA, acreditam os especialistas, caminham para se tornar o novo epicentro da pandemia. O que acontece com o mundo era imprevisível.

No Brasil, quando a economia entrava em aclive; a taxa de desemprego seguia discretamente em declive; os investidores estrangeiros começavam a chegar para os leilões de privatizações e concessões de portos, aeroportos, linhas de transmissão de energia elétrica, rodovias, ferrovias, geração de energia eólica e solar e da tecnologia 5G; quando tudo estava a indicar que, finalmente, o País se reencontraria com o crescimento sustentável, eis que surge a pandemia e faz descarrilhar o trem do desenvolvimento.

Para combater com eficiência a doença - contra a qual ainda não há vacina - a Organização Mundial de Saúde recomendou, com base no que aconteceu no seu berço, a cidade chinesa Wuhan, o isolamento social. Resultado: foram suspensas praticamente todas as atividades econômicas, com exceção daquelas essenciais, como a indústria de alimentos, medicamentos, material de higiene e limpeza e algumas áreas do setor de serviços, como os supermercados e os bancos.

A orientação da OMS se baseia numa pauta médica, em conhecimentos científicos na área da saúde. Seu objetivo é claro, inequívoco e coerente com a missão do organismo internacional: resguardar o bem-estar clínico da população, garantir sua segurança e sobrevivência à ameaça do coronavírus. Trata-se, por tanto, do que é mais importante.

Contudo, há as consequências econômicas do isolamento. A questão está para além da competência da OMS e se impõe como desafio aos governos Federal, Estadual e municipais ações para sustentar a interrupção da produção e do trabalho e do consequente desemprego. A fase mais dura da pandemia durará, estima-se, mais três meses. Como a economia brasileira sairá desse período de restrições econômicas não se dizer com precisão no momento. Assim, todos devemos aguardar e torcer pelo êxito das providências que as autoridades sanitárias nacionais e estaduais adotam. A gestão da crise tem sido ágil, que o resultado de suas ações também o seja.


Assuntos Relacionados