Editorial: O futuro das cidades

O mundo avança ao ritmo ditado pelos gigantes da tecnologia – os mesmos capazes de agregar e ampliar o alcance das iniciativas de empreendedores independentes. Caminha-se em direção a um futuro digno de ficção científica, com uma progressiva inclusão digital que já abrange cerca de metade da população do planeta. Ainda assim, vive-se a voltas com estruturas cujas origens remontam à Antiguidade, e que impõem ainda hoje desafios difíceis de solucionar. É o caso das cidades.

Os mais antigos assentamentos humanos, com alguma complexidade administrativa tendo em vista o coletivo, datam de pelo menos cinco séculos antes da era cristã. Indispensável ao desenvolvimento humano, a cidade foi uma invenção singular, pois tem um nascimento múltiplo. Organizações sociais do gênero surgiram em todos os continentes, mesmo sem que se possa falar em um fenômeno de mútua influência.

As cidades do presente são bem distintas de suas antecessoras primitivas, em dimensão territorial, complexidade administrativa e desafios a serem superados. Permanece sua importância para a civilização. Afinal, o mundo está cada vez mais urbanizado: 54% da população mundial vivem em áreas urbanas. A projeção das Nações Unidas é que essa proporção aumente e chegue a 66% em 2050. Associada ao crescimento da população mundial, a urbanização poderá trazer mais 2,5 mil milhões para as cidades nos próximos 30 anos.

Os especialistas projetam que ainda serão construídas 70% da infraestrutura urbana que veremos em 2050. O número traduz um desafio e um potencial igualmente grandes. De um lado, o problema do crescimento das áreas urbanas está posto, e os governos precisarão trabalhar de forma eficiente para garantir as condições básicas às novas populações, enquanto atua para sanar as mazelas que assolam quem já vive nesses espaços. De outro, as novas estruturas permitem um melhor planejamento, capaz de corrigir problemas antigos da cidade.

Dois eventos recentes colocaram em discussão propostas para tornar os ambientes urbanos mais apropriados à vida, buscando soluções em diversas áreas, do urbanismo à inteligência artificial, passando pelas dimensões criativas e pelas práticas sustentáveis. O primeiro foi a III Cúpula Internacional de Cidades Culturais, realizada em Buenos Aires, na Argentina, pela organização internacional Cidades Unidas e Governos Locais. O segundo, a Cúpula das Cidades, das Nações Unidas, que aconteceu em Nairóbi, no Quênia.

Em comum, os encontros apontaram para uma tendência ao protagonismo dos governos locais, no sentido de atuarem em parcerias com as instâncias estaduais e nacionais, mas sem ficar exclusivamente dependente das definições destas. Outro ponto em comum é o da importância de se caminhar em direção a modelos urbanos mais sustentáveis. Se 60% dos resíduos e 3/4 do uso de recursos e de emissões de gases de efeito estufa são oriundos das cidades, são elas os lugares privilegiados para promoverem ações como a da reciclagem sistemática.

São propostas que devem inspirar as cidades cearenses. A Capital, empenhada em planos ousados para o amanhã futuro, pode dar o exemplo, mas precisa ser ágil em tirar as ideias do papel. O futuro se constrói no presente.


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