Editorial: O dever ambiental

Adversidades, apesar de muitos pesares, costumam ter alguma serventia pedagógica. É natural e frequente que se aprenda, embora por vias invariavelmente penosas, com as lições que findam impostas por situações de dificuldade. O Ceará, com as características ambientais que tem, marcantemente a seca, reúne uma sequência de exemplos de problemas que acabaram por inspirar soluções.

Boas soluções, inclusive - a considerar projetos de segurança hídrica como muitos que se executaram. Pode-se dizer que o mesmo se aplica aos demais estados do Nordeste. Deve-se admitir: a natureza não foi amena para os nordestinos, mas os nordestinos têm sabido, conforme as precisões, resolver as demandas que surgem.

É de acordo com as intrincadas relações com clima e tempo que se pode observar agora um desafio novo: a enxurrada de óleo que vem tisnando as praias dos nove estados da Região. Acidental ou provocado voluntariamente, o desastre que se verifica não pode jamais deixar de ser visto como um ato lesivo, extremamente prejudicial à vida, à fruição social e de lazer e aos negócios turísticos. E, diferentemente das situações naturais, essa foi causada por interferência humana - inobstante o fato de ainda não se ter indicações das responsabilidades, é absolutamente ter isso em conta.

E é também necessário observar que passa pela política a trajetória das medidas que possam, com a mesma importância e urgência, prevenir e solucionar problemas como os que se registram na costa nordestina. Deve-se, então, cobrar de diferentes instâncias de representação do cidadão medidas corretivas e punitivas para episódios dessa monta.

É adequado, por fim, comparar as tragédias de Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais, em 2015 e em janeiro passado, respectivamente, com a que se abate sobre as praias locais. Nunca em termos de vidas humanas, evidentemente, posto que não há termos para estabelecer valores - a importância da vida humana transcende a frieza dos cálculos e não se mede por números -, mas se colocando as ocorrências em paralelo.

Sabe-se que a Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace), aliada ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), autarquia federal, e ao Corpo de Bombeiros, tem realizado sobrevoos e vistorias terrestres no litoral do Ceará, visando monitorar eventuais novas ocorrências de manchas de óleo no mar próximas às praias. Pode ser pouco, já que não se conhece ainda quem deva responder pelo problema. Completam-se hoje 15 dias dos primeiros avistamentos das manchas.

O que não se sabe ainda é da disposição nos ambientes políticos de se discutirem os quadros de forma conveniente, sem paixões partidárias, mas de formas tecnicamente aprofundadas, com a participação das universidades, das entidades profissionais e das instituições do terceiro setor, como organizações não-governamentais e fóruns do empresariado. Deve-se ter em vista, sempre, que qualquer barreira que a sociedade possa dispor para conter situações como as que se verificam agora passa, necessariamente, pela política. Tanto na proposição de novas providências referentes às questões ambientais quanto na aplicação dos dispositivos que já existem.


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