Editorial: O destino do lixo

O excesso de resíduos sólidos é um problema urgente e ubíquo. Sua concretude não pode ser contraposta a argumentos do tipo que ignoram o caráter orgânico do Planeta. Não é adversidade geograficamente distante; pelo contrário, está à vista ao se virar a esquina, em qualquer cidade do País. Não a toa têm, cada dia mais, ocupando desde autoridades transnacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), até instâncias locais de poder, caso das prefeituras que têm desenvolvido projetos exemplares de manejo dos materiais descartados.

Os números são incômodos, dados ao seu gigantismo. No ritmo atual de produção e consumo, são produzidas mais de 2 bilhões de toneladas de resíduos em todo o mundo. E há setores que apresentam curva ascendente neste lamentável quadro – caso dos eletrônicos.

Projeta-se que a geração de lixo eletrônico alcançará a marca de 120 milhões de toneladas/ano, em 2050. O número se baseia em um estudo da Plataforma para Aceleração da Economia Circular (PACE) e da Coalizão das Nações Unidas sobre Lixo Eletrônico, que leva em conta as tendências atuais, considerado a probabilidade de elas se manterem sem reversão drástica.

Menos de 20% dos resíduos do tipo é reciclado de forma adequada; o restante vai parar em aterros ou é processado e reaproveitado de maneira informal. Trata-se de material com potencial nocivo elevado, pois costumam conter substâncias tóxicas e cancerígenas, a exemplo do mercúrio e do chumbo. Por conta disso, quando descartados de forma incorreta, sem tratamento e destinação que minimizem seus dados, são capazes de contaminar o solo e os lençóis freáticos, estendendo seus prejuízos sistemas de produção de alimentos e recursos hídricos.

Segundo o Programa das Nações Unidas para Assentamentos Humanos, organismo da ONU que acompanha a gestão de resíduos sólidos no mundo, 99% dos produtos comercializados são descartados em até seis meses. O resultado disso é que, para suprir os recursos e absorver o lixo gerado por quase 8 bilhões de pessoas, seria necessário se valer, além da Terra, de um outro planeta, com 70% das duas dimensões. A projeção traduz a situação absurda que o gênero humano anda metido, visto que a solução é impensável mesmo para as fantasias mais delirantes da ficção científica.

Os índices superlativos devem-se à soma do que está radicalmente próximo do cotidiano de todas as pessoas. Os resíduos gerados por uma pessoa e a maneira que ela escolhe para descartá-los fazem parte desse somatório, ainda que na maior das partes das vezes ambas as ações se deem de forma quase inconsciente. Lamentável, portanto, o indicativo de que foi registrado aumento de mais de 70% os casos de acúmulo irregular de resíduos sólidos, encontrados em imóveis e terrenos nas ações realizadas pela Agência de Fiscalização de Fortaleza (Agefis). A prática é condenada pelo Código de Obras e Posturas da cidade.

A mudança é, por um lado, política e tecnológica, passando pela articulação entre países e, internamente, entre as instâncias administrativas de uma nação; e, por outro, pessoal, ética, e implica na adoção de hábitos sustentáveis, a começar por aqueles ordenados pelas legislações locais.


Assuntos Relacionados