Editorial: O Carnaval e a ordem

A semana que antecede o Carnaval já traz, em si, a alegria das festividades mominas. Na Capital, o ciclo pré-carnavalesco animou a cidade, consolidando a tradição de encarnar a folia como se ela tivesse ignorado o calendário e se adiantado. Neste período, se integram ao cotidiano as fantasias, o cancioneiro que traduz o espírito da época, a disposição para os prazeres, a festa. Subverte-se a gravidade, a vida carregada de problemas e os espaços e horários em que brincar é permitido. 

Para alguns, os dias que se seguirão são os últimos de um período de calmaria programada, antes de se iniciar, sem mais adiamentos, os trabalhos e projetos do ano. O setor produtivo espera, sempre, que esta variável, de fato, impacte positivamente no consumo de bens e serviços. E o próprio País aguarda a tal volta do crescimento, tão desejada quanto prometida, e que esta se manifeste de forma vigorosa e visível para todos, para além dos números levantados por especialistas e institutos de pesquisa. 

A política - em ano eleitoral e diante do desafio de levar a cabo a constantemente adiada reforma tributária - ignorou a "regra", protagonizando embates nos mais diversos espaços de poder. E cabe ao cidadão também se adiantar, pois as opções para sua escolha em outubro já se desenham, assim como o que deve fundamentá-la _ a atuação de personalidades e grupos no Legislativo, no Executivo e em outros setores da sociedade. 

Carnaval e política não são universos de todo distantes. O primeiro, aliás, oferece uma oportunidade de se observar a forma como as administrações públicas são tocadas, e os parlamentares se posicionam em relação às ações programadas e realizadas pelo Executivo, nos âmbitos federal, estadual e municipal. 

Ainda que o conceito do Carnaval se ligue ao da inversão do mundo, tal subversão da ordem se dá no festejo e na brincadeira. O mundo, contudo, mantém sua ordem, e ela precisa ser mantida, com o funcionamento das instituições. Há serviços a serem feitos, atendendo aos interesses da sociedade, no período e para além do período. Ao cabo de quatro dias, a festa termina; e deve haver esforço conjunto para que seu saldo seja positivo.   

Por óbvias que pareçam tais afirmações - e, de fato, elas o são -, é importante reforçá-las, pois, por vezes, se vê certo descuido com a festa. Como se o Carnaval fosse tomado por bagunça e hedonismo reprovável. O Carnaval é tradição e cultura; é tempo de celebrar as alegrias e, assim, enfrentar as tensões cotidianas. É socialmente relevante, também em sua dimensão econômica. 

Assim como o período pré-carnavalesco, a folia momina demanda atenção do poder público a serviços básicos, como o ordenamento das ruas (incluindo o controle de trânsito, dos diversos modais), a segurança e a saúde. Deve-se ter em vista a garantia da integridade de pessoas e do patrimônio, público e privado. 

Como está inscrito num contexto de tradição, o Carnaval faz parte de um processo cíclico. É, em parte, repetição e, portanto, há lições dos anos anteriores que são úteis para que a festa que se inicia no próximo fim da semana corra de forma tranquila, mantendo-se a ordem necessária e saudável.


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