Editorial: O Brasil não pode parar

Existe uma crise insistente que aflige a política brasileira, com consequências negativas ao cotidiano dos cidadãos. Trata-se da confusa relação entre os três poderes, que por vezes toma forma de queda de braço em que, enlaçados, os lados em disputa passam a ignorar os limites em que estão circunscritas suas atuações. Quando se chega a tais extremos, é deixado de lado o que diz a Constituição Federal de 1988. Em seu artigo 2º, a Carta Magna qualifica os Poderes da União como "independentes e harmônicos entre si".

A Lei Suprema do texto constitucional é como uma língua comum. Quando se abre mão dela, se perde a ferramenta indispensável para que se estabeleça a comunicação e, sem esta, o entendimento mútuo é impensável. Os casos na esfera federal talvez sejam mais ruidosos, mas não estão distantes do que se observa nas demais instâncias.

A aprovação pública tem sido pleiteada, para legitimar invenções que se sustentam exclusivamente sobre suas próprias regras. Deve-se refutar a tentação de alcançar os objetivos sem se observar, rigorosamente, a correção dos meios. Pela intensidade que demonstra ter, a situação não há de ser contornada em curto ou médio espaço de tempo. É possível avaliar, então, que as consequências do que se está gerando se prolongarão por muito tempo - podendo ser ora compreendidas como lições, ora como sequelas.

Há, contudo, um desafio que vai além do de se desvendar eventuais condutas irregulares de agentes públicos. É o de manter o País nos trilhos ao mesmo tempo em que se busca a correção de procedimentos. Esse desafio tem endereço certo: o Palácio do Planalto, centro do Poder, onde se decidem ações fundamentais para a sociedade. Cabe às lideranças eleitas pelo cidadão a responsabilidade de acertar a direção e oferecer, ao menos, a segurança institucional que o País exige e necessita.

Sob a pena da estagnação e da perda da competitividade e da credibilidade do Brasil, é fundamental que o presidente Jair Bolsonaro se posicione de forma efetiva e eficiente, assim como as representações dos poderes Legislativo e Judiciário assumam posturas que, pelo sim, pelo não, sinalizem firmeza na solução de problemas.

Uma observação do ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz indica a importância de se adotarem medidas que orientem com precisão as estratégias de gestão. Serve, sobretudo, como uma qualificada advertência de um ator destacado na cena pública.

Disse ele, sobre o momento político: "Tem de aproveitar essa oportunidade para tirar a fumaça da frente para o público enxergar as coisas boas". O alerta do general, que até o início do mês ocupava a Secretaria de Governo do Governo Federal, tem pertinência particular. Pelo que se depreende, o foco que se deve estabelecido e preservado é o da estabilidade, no sentido de se oferecer aos cidadãos e às instituições a garantia de estruturas sólidas e confiáveis - algo essencial para que se possa trabalhar no presente e se projetar o futuro.

A imobilidade, eventualmente imposta por estratégias equivocadas, não acrescenta virtudes, não inclui vantagens a nenhum processo. Enfim, não aponta para o progresso; só induz o atraso na resolução dos muitos problemas que afligem o País.


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