Editorial: No meio do caminho

O longo histórico de embates entre os cearenses e a seca fizeram das chuvas o signo máximo da bonança para o Estado. Não é apenas uma imagem, sustentada por valores e anseios em comum. A riqueza das chuvas tem concretude. Delas os cearenses das sedes e dos rincões dos municípios, do litoral e do interior; sobretudo, aqueles que vivem no sertão e precisam das águas para irrigar a lavoura e garantir a sobrevivência dos animais e de suas próprias famílias. Numa temporada histórica de seca, as águas que caíram nesse primeiro semestre tinham tudo para serem comemoradas, sem restrições.

Mas havia problemas no caminho. E históricos. Viu-se a inusitada evacuação de uma comunidade que vivia próxima à barragem do Açude Granjeiro, localizada em Ubajara. Ameaçada de rompimento, por falta de manutenção adequada, ela obrigou quase 500 famílias a deixarem suas casas em busca de um abrigo temporário até poderem voltar em segurança. As águas encheram o açude e foi preciso dar vazão às águas para que as paredes do local não se rompessem, causando destruição pelo caminho.

O caso do açude, de certa forma, tem uma resolução simples. Fiscalizações precisam ser feitas periódica e corretamente em equipamentos do gênero, públicos e privados, e aos responsáveis deve-se exigir a manutenção adequada.

Outro problema que viu, repetido em diversos pontos do Estado, foi o das estradas danificadas pela força das águas. Em boa parte dos casos, a destruição foi facilitada pelo estado precário da malha viária. As chuvas do mês de março deixaram marcas em estradas federais, estaduais e municipais. Faltam dados oficiais, mas se multiplicam os relatos de trechos críticos, difíceis de trafegar ou mesmo impossíveis de serem transitados. Pelo menos, três dezenas deles têm tornado o ir e vir entre as cidades uma incógnita a ser enfrentada viagem a viagem. Há casos graves como o da CE-163, que dá acesso à Praia de Mundaú, em Trairi, mas que ficou absolutamente sem condições de ser trafegada.

O problema não é pequeno. Tem impactos no cotidiano, de quem precisa pegar a estrada para trabalhar ou outra localidade e acessar serviços bancários ou de saúde, por exemplo. Para o comércio, implica em prejuízos, pois atinge um dos pilares estruturais da atividade. Em respeito à população, são problemas que precisam de ações resolutivas, de dois tipos e ambos com agilidade. Devem ser realizados, com urgência, obras de reparo, para estabelecer o fluxo viário. E deve-se levar adiante projetos e obras de reparo e manutenção das estradas que já existem. Cabe aos parlamentares, nas três instâncias, fazerem soar as insatisfações populares e cobrarem que o descaso não se faça regra.

O Brasil é o País com a maior concentração rodoviária de transporte de cargas e passageiros, quando comparado às principais economias mundiais. Aqui, 58% do transporte é feito por rodovias. A malha rodoviária é o canal de escoamento de 75% da produção no País, seguida da marítima (9,2%), aérea (5,8%), ferroviária (5,4%), cabotagem (3%) e hidroviária (0,7%).

O modelo não é o melhor, pois encarece os produtos, mas enquanto não é mudado, precisa ser eficaz, demanda investimentos e atenções que potencializem sua funcionalidade.