Editorial: Mudança no Senado

Da inesperada e tumultuada eleição do desconhecido amapaense Davi Alcolumbre para a presidência do Senado há lições a serem extraídas. A primeira delas é claríssima: a sociedade, que antes se manifestava nas ruas, ampliou sua pressão sobre os mandatários pelas redes sociais, cobrando, em tempo real, atitudes e votos a favor de mudanças das práticas políticas e de gestão pública e contra o que sempre foi tradição nas relações dos três poderes da República nos âmbitos federal, estadual e municipal. Ainda não se imagina o que Alcolumbre - não se perca pelo nome - e os demais integrantes da Mesa Diretora do Senado, a serem eleitos amanhã, terça-feira (5), farão para implementar as mudanças exigidas pela população cansada do toma lá dá cá, mas já se tem a certeza de que, nas duas casas do Congresso Nacional, deputados e senadores serão vigiados severa e permanentemente pelas redes sociais (um dos senadores, o jornalista goiano Jorge Kajuru, disse que tem 8,5 milhões de seguidores nos diferentes canais de comunicação on line). Os tempos mudaram, e a política e os políticos precisam mudar, também.

Na Câmara dos Deputados, a reeleição do carioca Rodrigo Maia - do mesmo DEM de Alcolumbre - está em linha com a necessidade que tem o País de retomar o caminho do crescimento econômico, e isto só será possível se forem aprovadas as reformas estruturantes que o Poder Executivo lhe encaminhará ao longo deste mês. A principal delas, a da Previdência Social, de tão necessária, parece ter ocupado a preocupação não só dos congressistas, mas igualmente dos governadores, mais da metade dos quais se defronta com a herança maldita que receberam dos seus antecessores - Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e Minas Gerais estão falidos, sem dinheiro para pagar em dia os vencimentos dos seus servidores. Aqui no Ceará, que tem orçamento equilibrado e contas em dia, o déficit da Previdência chegará no fim deste ano a R$ 2 bilhões.

Aparentemente, a nova direção da Câmara dos Deputados e do Senado Federal tem posição a favor das reformas. Mas não bastará apenas a simpatia de Rodrigo Maia e Davi Alcolumbre. O presidente Jair Bolsonaro - ainda convalescente de uma cirurgia no abdome - e seu time de ministros precisarão de habilidade na difícil construção da maioria - dois terços dos votos do Congresso - necessária à aprovação de suas propostas reformistas. Disposto a não sucumbir à chantagem tradicional dos parlamentares, que sempre custou caríssimo ao Tesouro Nacional, o Palácio do Planalto - sob nova direção desde o dia 1º de janeiro - mantém sua estratégia de apoiar-se na comunicação direta, pela via digital, com a sociedade.

A eleição do senador Davi Alcolumbre comprovou, mais uma vez, a força das redes sociais, as quais, em sintonia com toda a sociedade, estão, desde 2013, a pedir mudanças. E a mudança já começou pela troca da guarda do Senado, onde, desde 1985, o MDB dava as cartas. Hoje rachado ao meio, o MDB sempre esteve à sombra do poder, barganhando com o Executivo e até com grandes empreiteiras, como provou a Lava Jato. É incerto o futuro próximo do partido. Não obstante, agora bandeando-se para a oposição, poderá causar estragos às reformas.