Editorial: Mortalidade materna

Os países desenvolvidos dispõem de índices que merecem atenção, por aqueles que, em condições econômicas mais adversas, projetam condições mais dignas para seus cidadãos. Minimizar desigualdades e garantir, efetivamente, direitos básicos são metas a serem perseguidas incansavelmente. Se realizadas, deve-se empenhar os esforços necessários para mantê-las e, se possível, ainda melhorá-las.

O Brasil é um país de contradições, com vocação ao futuro, mas com um pé fincado no passado, no pior que ele pode ter. Se, por um lado, temos uma população familiarizada com os meios digitais, que valoriza o acesso à rede mundial de computadores e a tecnologia de ponta, por outro ainda apresentamos índices negativos quanto ao saneamento básico e ao acesso a serviços de saúde.

Os dados do relatório Estatísticas da Saúde no Mundo, publicado anualmente pela Organização Mundial da Saúde, merecem ser lidos com atenção, pois nos lembram de patamares de superação a serem perseguidos, para além dos índices econômicos. Em países de baixa renda, onde os serviços de saúde são mais limitados e excluem boa parte de suas populações, 1 em 41 mulheres morre por causa materna (por causas relacionada à gravidez, ao parto e ao puerpério). Já nos países de alta renda, observa-se, em média, 1 morte em cada grupo de 3.300 mil.

O Brasil está entre uma realidade e outra; não figura entre os piores lugares nesse ranking terrível de mortalidade materna, mas ainda está distante de marcas que são referência no cuidado com a saúde da população. Segundo dados do Indicadores de Desenvolvimento Global do Banco Mundial, em cada grupo de 100 mil nascidos, 69 mulheres morreram por causas relacionadas à maternidade no País - mais do que o dobro se comparado aos números de óbitos do tipo registrado nos países ricos.

A mortalidade materna é um problema social e de saúde pública complexo. Não tem causa única e, para ser enfrentado, exige ações coordenadas em diversas frentes, dependendo, além da própria mulher, do Estado, da família e da comunidade. Resulta de fatores biológicos, econômicos, sociais e culturais - excluindo os óbitos ocorridos por causas acidentais. Em cada um desses campos, as causas podem ser evitadas ou tratadas, minimizando os casos fatais.

As principais causas da morte materna são complicações do pós-parto, como necrose da hipófise, glândula que regula a atividade de demais glândulas; complicações no puerpério, caso da osteomalácia, doença que causa deformidades ósseas e fraturas na mulher; infecções hospitalares durante o parto; e transtornos mentais e comportamentais associados ao puerpério, como depressão pós-parto, transtorno do pânico, disfunções provocadas pela perda exacerbada de sono. Um sistema de saúde eficaz pode minimizar parte desses problemas, a participação doméstica de familiares e amigos, outras.

Promover ações eficientes para evitar mortes maternas é fundamental para contornar outros problemas sociais decorrentes dessa realidade. Tragédias do gênero podem desarticular estruturas familiares, sobretudo no caso, cada vez mais comum, em que as mulheres são o arrimo de família, quando não sua única e exclusiva provedora.