Editorial: Luta contra a hanseníase

Todos os anos, no último domingo de janeiro, é celebrado o Dia Mundial de Luta Contra a Hanseníase. O Brasil tem data própria para destacar os esforços para debelar a doença. Acontece, no dia 31 de janeiro, o Dia Nacional de Combate e Prevenção da Hanseníase. Ambos os dias servem de impulso para o enfrentamento desta enfermidade milenar, por meio da informação especializada e dos tratamentos adequados.

A informação é uma poderosa aliada das ações de prevenção, dos tratamentos e, eventualmente, da cura de qualquer doença. No caso da hanseníase, é mais do que importante – a informação é fundamental –, pois, além dos desafios clínicos, há o preconceito que ainda a cerca e que tem consequências, sociais e clínicas, nefastas para o enfermo.

A hanseníase é uma condição crônica e transmissível. É causada pela bactéria Mycobacterium leprae, cujas manifestações mais antigas que se têm conhecimento remontam seis séculos antes da Era Cristã. Sua multiplicação no organismo é lenta e os sintomas podem demorar até 20 anos para se manifestar. A hanseníase afeta, principalmente, os nervos periféricos e provoca lesões cutâneas graves, pelas quais é mais comumente identificada. Sem o tratamento adequado, pode causar deformidades físicas e danos permanentes aos nervos.

Pouco se sabe da origem da hanseníase, mas a teoria mais aceita é a de que primeiro teria aparecido no Oriente e se espalhado pelo mundo a bordo das embarcações comerciais. Seu antigo, e estigmatizado, nome era lepra, baseado no vocábulo grego para escama. A Bíblia está cheia de aparições da doença, muitas vezes associada a castigos divinos. A denominação Mal de Lázaro, também a ela associada, é uma referência à personagem que, abatida por grave enfermidade, teria sido ressuscitada por Cristo. 

Os emaranhados narrativos da antiguidade resistem no imaginário e encontram terreno fértil na desinformação. Sob a hanseníase ainda pesam infundadas associações ao pecado e à impureza; e a ideia de que é um mal de consequências fatais. O quadro traçado pela ciência é radicalmente distinto desse pesadelo da imaginação leiga.
A doença é completamente curável, com uma terapia múltipla de medicamentos (MDT), gratuita. É, no entanto, preciso que seja feito um diagnóstico quanto antes, para que os recursos médicos sejam acionados. A demora em iniciar o tratamento pode, em alguns casos, levar a danos irreversíveis.

Em todo o mundo, mais de 200 mil novos casos de hanseníase são detectados anualmente. Três países concentram 80% das notificações: Brasil, Índia e Indonésia. Vinte três países do continente americano já eliminaram a doença como problema de saúde pública, mas o Brasil, com uma média anual de quase 30 mil novos casos, ainda tem uma estrada longa pela frente. 

No Ceará, foram notificados 1.414 novos casos de hanseníase em 2018. Para aqui, vale a receita da Estratégia Global para Hanseníase, erigida sobre três pilares: fortalecer as ações em parcerias entre os governos; deter a hanseníase e suas complicações; e em acabar com a discriminação e promover a inclusão. O cidadão entra aqui, informando-se sobre a doença, abandonando preconceitos e cuidando, de forma adequada, de si mesmo e de seus entes queridos.