Editorial: Gastos da geração Z

Pesquisa divulgada nesta semana indica que 47% das pessoas da chamada "Geração Z" - faixa de idade dos 18 a 25 anos, absolutamente integrada a novas tecnologias - não conseguem controlar os gastos que fazem. É muito preocupante. O levantamento foi feito por uma entidade relacionada à Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), que apura e armazena dados sobre as operações de crédito efetuadas por empresas no Brasil.

São apreciações particulares de cada um dos entrevistados, claro, mas, somadas, assumem volume bastante expressivo para a economia do País e, evidentemente, para a sociedade.

Apresenta-se aí um estado de coisas que, mais até do que assustar no presente, impõe perspectivas complicadoras para o futuro. Afinal, as informações revelam um endividamento recorde dos mais jovens. E indicam possibilidades graves de mais reflexos negativos em anos vindouros, com o risco de prevalecer um efeito "bola de neve", uma vez que não há sinais de correção de rumos em curto prazo.

As informações divulgadas mostram que as principais dívidas contraídas por jovens são, curiosamente, as tradicionais, a exemplo do cartão de crédito.

Mais: os entrevistados apresentaram justificativas diversas para o descontrole das finanças pessoais. Dos que foram ouvidos, 19% disseram não adotar medidas de controle dos gastos por "não saber" como fazer. Já 18%, numa sinceridade constrangedora, atribuíram a falta de comedimento à preguiça. Outros 18% citaram falta de hábito ou disciplina. Uma parcela de 16% não buscou explicação além de não ter rendimentos.

A falta de educação financeira é considerada por especialistas, em análises consensuais, como um grande problema. Algo que alcançaria proporções epidêmicas e planetárias - o entrave se verifica tanto no Brasil quanto em outros países, em níveis distintos.

Estima-se que, mesmo estando em posições de vanguarda, as gerações brasileiras mais recentes permanecem atreladas a meios tradicionais de se endividar, usando, paralelamente, alternativas comuns menos eficientes para controlar o orçamento. Ou, pior, para deixar de refreá-lo.

É lícito concluir que famílias, escolas e instituições públicas e privadas têm cotas de responsabilidade sobre esse estado de coisas. Em algum elo dessa corrente social, ou em alguns elos, é possível que haja o acompanhamento necessário dos jovens. Sabe-se que há recursos, mas nem sempre esses são aplicados.

Não é o caso de se procurarem culpados nem mesmo de se fazerem julgamentos, mas de se implementarem meios que atenuem adversidades. Resolvê-las por inteiro pode não ser viável, visto que muitos estragos já foram causados e são irremediáveis, mas admite-se a prevenção.

E é aí que está a importância das iniciativas. Evitar novos erros é, portanto, fundamental. Educadores, pais, gestores públicos e dirigentes de entidades classistas têm papéis preponderantes num palco de transformações.

Independentemente de causas e efeitos que possam se relacionar a esse quadro, não é exagero considerar que o problema é de educação. Saná-lo, portanto, é tarefa de todos.


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