Editorial: Força e inteligência

Janeiro de 2019 ainda será lembrado, por muito tempo, pelo embate que ganhou ruas, avenidas e estradas do Ceará. De um lado, facções criminosas, com o único acordo em comum de se oporem à presença ordenadora do Estado; de outro, as forças de segurança pública, empenhadas em debelar as ações do crime organizado que, numa série de ataques, ameaçou vidas e destruiu patrimônios públicos e privados. Não foi uma batalha rápida. À época, foi notória a agilidade do Estado de responder às investidas dos criminosos e em solicitar todo o apoio necessário.

Desde o dia 20, uma nova onda de crimes tenta reviver o clima do começo do ano. Fortaleza é o epicentro dos distúrbios e mais de 50 incidentes foram registrados nos seis primeiros dias desta nova leva de ataques. Mais uma vez, a resposta do Estado veio de pronto. Como medidas emergenciais, o Governo autorizou a suspensão das férias de policiais, para retorno imediato destes às ruas, além de determinar que os agentes de segurança atualmente locados em serviços administrativos fossem deslocados para atividades de patrulhamento.

A aproximação entre os governos Estadual e Federal também não tardou desta vez. O Palácio da Abolição segue em diálogo com o Ministério da Justiça, para avaliar a necessidade e a possibilidade de serem enviadas tropas federais para reforçar os trabalhos das forças de segurança locais. Em janeiro, homens da Força Nacional se somaram aos agentes locais no combate às ações protagonizadas pelas facções criminosas. 

De pronto, a parceria com a União já viabilizou a transferência de presos do Ceará para presídios federais. A medida priorizou aqueles que são suspeitos de exercer postos de liderança na hierarquia dos grupos criminosos, tendo participação no planejamento das ações.

O calor da emoção e a ansiedade para se ver superada a crise não devem turvar a visão necessária para se projetar tempos mais tranquilos para a sociedade cearense. Nesta hora, as ações repressivas não são apenas importantes, mas ainda indispensáveis e urgentes. Sob pressão, exige-se delas, ao mesmo tempo, rigor e precisão. Ao Estado, mesmo em momentos como este, cabe o dever de ser cirúrgico.

Quando criminosos confrontam o Estado, o fazem atacando a sociedade. Esta precisa ser preservada e, ao máximo, resguardada. Para tal, é mister que as forças públicas mostrem estar preparadas, que suas ações sejam resultantes de uma administração previdente. A palavra-chave é, mesmo nos momentos de crise e de urgência, inteligência.

Dias como os vividos neste fim setembro e no início do ano, estes ainda frescos na memória da população e daqueles que sofreram prejuízos, são manifestações hiperbólicas de uma realidade que não pode ser admitida em um Estado moderno. Que o crime se instale em territórios, da Capital e do interior, e que se sinta autorizado a comandá-los ao arrepio das leis, está longe de qualquer possibilidade de negociação.

À resposta rápida e enérgica do poder público para conter a onda de ataques, deve-se seguir, e mesmo se intensificar, os trabalhos de investigação, para desmontar estruturas incompatíveis com uma sociedade zelosa pelos seus. À força deve-se, sempre, estar aliada à inteligência.