Editorial: Esforço de recuperação

Recentemente, o Ceará perdeu a liderança em áreas importantes da economia – a geração de energia eólica e solar, a produção de melão e a carcinicultura. Há diferentes causas, a primeira das quais é de ordem natural. Há seis anos, o Ceará e boa parte da região Nordeste têm sido castigados pela baixa pluviometria. Neste ano, voltaram as chuvas, infelizmente mal distribuídas, concentrando-se no litoral, nas regiões serranas e em partes do Cariri. Nos Inhamuns e no Sertão Central, choveu pouco, razão pela qual os maiores açudes do Estado – Orós, Castanhão e Banabuiú – guardam hoje apenas 5% da capacidade. 

Por falta de água, a Itaueira Agropecuária – que, às margens do Canal do Trabalhador, produzia e exportava melão para os EUA, Canadá e Europa – teve de transferir-se para o Piauí e a Bahia. A Agrícola Famosa, maior produtora e exportadora brasileira de melão, também teve de investir no Rio Grande do Norte para garantir a oferta da fruta aos seus clientes nacionais e estrangeiros. 

Pelo mesmo motivo – a falta de água – o Ceará, que era o maior produtor brasileiro de tilápia, perdeu essa liderança – hoje, este Estado é apenas o maior consumidor desse peixe nobre. Os tilapicultores cearenses, que criavam tilápia nas águas dos grandes açudes, foram obrigados a migrar para o Piauí e a Bahia. 

Na produção de camarão, a causa da perda do protagonismo cearense não foi só a falta de água, mas também o que os carcinicultores chamam de burocracia excessiva dos órgãos de licenciamento ambiental, que atrasam e dificultam a implantação dos projetos – de pequeno ou grande portes. Consequência: os investimentos foram levados para um estado vizinho, o Rio Grande do Norte. 

Mas a perda maior – pela repercussão econômica e social que representou – deu-se na geração de energia solar e eólica. Pioneiro e líder durante vários anos na geração de fonte eólica, o Ceará está hoje atrás da Bahia, do Rio Grande do Norte e do Piauí, que também lideram os investimentos na geração solar, da qual o Ceará foi pioneiro, instalando e operando em Tauá a primeira usina de geração comercial do País. Em 2014, o Estado registrou crescimento de 120% na geração eólica, mas, de lá para cá, foi franciscano o investimento no setor, e isto tem agora reflexo no atual ranking dos estados que mais produzem energia a partir da força dos ventos. 

Diante da escassez de chuva imposta pela natureza, o Governo cearense deve incentivar a iniciativa privada a investir mais aqui na geração de energias renováveis. A maior fabricante mundial de geradores eólicos – a dinamarquesa Vestas – está ampliando sua unidade industrial de Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, que passará a produzir, até o fim deste ano, para todo o País, sua novíssima turbina V150 com 4,2 MW de potência e já com quase 200 unidades encomendadas. Contudo, todos os projetos em instalação se encontram fora da geografia cearense. 

Escolhido pela gigante Vestas como centro de fabricação nacional de sua última novidade tecnológica, o Ceará – “casa” de alguns dos melhores bancos de ventos do País – dispõe de todas as condições objetivas para a retomada da liderança que já teve, mas para isso terá seu Governo de fazer um esforço de atração de investimento, algo que já fazem os baianos, potiguares e piauienses.