Editorial: Empreender é preciso

Crises como a que o Brasil enfrenta, pelo menos, desde 2015, tendem a inspirar o sonho de se repetir tempos melhores. Com frequência, recorre-se ao passado como um espelho capaz de mostrar o lugar onde se queria estar. Anseios saudosistas como estes, em geral, erram em dois pontos: ao ignorar que o tempo não retroage e em idealizar o que ficou para trás. A melhor das épocas certamente não o terá sido para todos, nem terá decorrido sem complicações e desafios. Almejar e trabalhar por um futuro melhor é uma trilha a ser seguida em qualquer cenário, de bonança ou de crise. Daí ser fundamental estar atento a uma ideia que está na ordem do dia – e seguirá assim: o empreendedorismo.

O dicionário define o empreendedorismo como a “atitude de quem, por iniciativa própria, realiza ações ou idealiza novos métodos com o objetivo de desenvolver e dinamizar serviços, produtos ou quaisquer atividades de organização e administração”. É uma disposição cada vez mais necessária, em tempos que assistem a cenários serem inteiramente redesenhados em espaços curtos do tempo, como se o futuro tivesse cada vez mais pressa em chegar.

A ideia de empreendedorismo despontou, para uma discussão mais consistente e focada, nos anos 1940, a partir do trabalho do economista austríaco Joseph A. Schumpeter. Foi ele quem associou o empreendedor, figura nem sempre lembrada em teorias mais antigas, ao desenvolvimento econômico. Schumpeter formulou uma teoria que se ajustava bem ao momento que compôs a sua obra e, ainda mais, às décadas que se seguiram a ela. Para ele, nosso sistema econômico se fundamenta na permanente renovação de produtos, métodos de produção e mercados. O vetor desse processo seria o empreendedor.

No mundo dos negócios, não faltam histórias exemplares de homens e mulheres capazes de antever futuras ou criar novas e que, mais do que isso, são capazes de produzir as condições necessárias de dar concretude a uma visão. Há uma década, Jacques Marcovitch, professor emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo, reuniu em três volumes os perfis biográficos de personalidades marcantes do empreendedorismo e do pioneirismo brasileiro. 

A trajetória de nomes como Attilio Fontana, José Ermírio de Moraes, João Gerdau, Roberto Marinho e Edson Queiroz, o fundador do Sistema Verdes Mares e do conglomerado empresarial que leva seu nome, é testemunha do quão importante é empreender nas mais diversas áreas. O resultado da visão e da capacidade de personalidades assim não é apenas o sucesso nos negócios, mas a reconfiguração do espaço em que atuam, contribuindo efetivamente para o avanço social do País.

É por isso que são tão importantes as iniciativas, que têm se multiplicado, de formação do espírito empreendedor em ambientes educacionais, sejam ainda nos ensinos fundamental e médio ou, de forma mais especializada e aprofundada, em cursos técnicos ou universitários. Ajudam a fomentar a disposição que faz a diferença em momentos de crise, quando se precisa de reação da economia, e tem papel capital na construção de cenários criativos, uma das marcas e exigências do nosso tempo.


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