Editorial: Efeito colateral

A temperatura tem subido, e a atmosfera ficado mais tensa nos círculos políticos locais. Enquanto, no plano nacional, as movimentações são aquelas determinadas pelas transformações nas configurações do poder, ainda longe de estarem assentadas, o que se observa nas instâncias municipais são agitações que já antecipam as disputas eleitorais que levarão os brasileiros à urna em outubro do próximo ano.

Em cena, estão os atores políticos que almejam novas posições a partir de 2021 e dos que esperam aí começar novo ciclo de projetos já em curso. Também são determinantes, neste panorama, ações, pensadas como atos políticos ou não, que levam os embates entre rivais a campos como o da investigação policial, em casos de corrupção, por exemplo, e de processos administrativos, a serem resolvidos no âmbito do Legislativo. Situações assim foram vividas, recentemente, em cidades da Região Metropolitana de Fortaleza. São mais que episódios da crônica política dos municípios envolvidos, mas fatores que podem se mostrar determinantes para o futuro político próximo destes locais. 

Quedas de braço do tipo, que com frequência envolvem forças e agentes do Executivo e do Legislativo, não são atípicas. Se não são exatamente previsíveis, em todos os seus detalhes e desenrolar, não se pode dizer que cheguem a ser surpreendentes. Gestões sem atribulações e a política sem rupturas, embates e reviravoltas são exceções, nunca a regra.

É infrutífero cobrar da realidade e agir sobre ela levando em conta como as coisas deveriam ser e não como eles, de fato, o são. Portanto, não se deve esperar outro ritmo destes ciclos de dois anos, que redesenham as configurações do poder local e tem impacto direto na administração pública. Mas é necessário que o cidadão esteja atento para os efeitos que as inconstâncias políticas possam ter sobre os serviços públicos prestados e a forma como os recursos, oriundos de seus impostos, são aplicados. 
A conta das tensões político-partidárias não pode ser imputada à sociedade. Não devem os confrontos, de ideias e projetos para a sociedade, tornarem-se maiores do que devem ser e consumirem energias que não haviam sido destinadas a eles. É mister garantir o funcionamento das instituições, o andamento de políticas de estado e os serviços de responsabilidade dos municípios. Garantia  que só pode ser dada por meio de um pacto de civilidade entre as forças políticas em atuação e entre os poderes constituídos.

A relação entre os cidadãos e seus representantes não se limita ao instante do sufrágio. Aqueles que foram eleitos devem honrar com o compromisso público que assumiram. Quem os elegeu também tem papel fundamental, a partir do diálogo, no sentido que este compromisso seja efetivo.

A política não pode ter a si mesma como fim. O poder, conceito fundamental para compreendê-la, deve ter uma força em prol do bem comum, do que serve a todos. Em qualquer tempo, e não apenas às vésperas dos períodos eleitorais, o cidadão deve estar atento aqueles que tomam caminhos inversos, entendendo o poder como objetivo maior e vetor para os benefícios pessoais. Estes, a despeito de promessas, não cumprem com a missão fundamental que assumiram.