Economia e política

A soma de todos os bens e serviços produzidos no Brasil, expressa no Produto Interno Bruto (PIB), pode avançar no crescimento na passagem de 2019 para 2020. A estimativa, modesta, foi divulgada no boletim Focus, por meio do qual as instituições financeiras apontam previsões para a inflação. Prevê-se que saia de 0,91% de aumento para 0,92%. Ou seja, 0,1 ponto percentual. O Focus é elaborado semanalmente pelo Banco Central e tem acreditação nos mercados interno e externo.

A notícia de crescimento tem dois vieses. O primeiro é o avanço em si, que pode ser considerado efetivamente interessante diante de uma sequência de estatísticas ruins. O outro é a inexpressividade do índice - real, preocupante e muito diferente dos de outras nações. A Espanha, por exemplo, calcula que o aumento do PIB vai chegar a 1,8% em 2020. Portugal considera 1,7%. Na América Latina, o Paraguai projeta crescimento de 4% e o Peru prevê melhoria em igual patamar.

O Focus indica, ainda, que as instituições financeiras fazem previsões inflacionárias de 3,29% (2019), 3,60% (2020), 3,75% (2021) e 3,50% (2022). Estas taxas são medidas pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e se regem por fatores internos e externos. Observe-se que as projeções para 2019 e 2020 vêm sendo anotadas abaixo do que se define no jargão econômico como "centro da meta de inflação" - uma referência que, estrategicamente, deve ser perseguida pelo Banco Central.

A meta de inflação, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 4,25% (2019), 4% (2020), 3,75% (2021) e 3,50% (2022). Essas configurações podem representar fôlego para empreendimentos e empregados, com a possibilidade de criação de mais vagas para mão de obra e, consequentemente, de reação ao desemprego e de robustecimento da capacidade de arrecadação fiscal da gestão pública. O boletim do Banco Central avalia, ainda, que a taxa Selic deve terminar 2019 e 2020 em 4,50% ao ano. Essa é a ferramenta mais importante do BC para controlar a inflação. É a taxa básica de juros. As decisões do Comitê de Política Monetária em relação à Selic determinam rumos à economia.

Se a taxa cai, cresce a tendência de que o crédito fique mais barato. Isso indica incentivo à produção e ao consumo, estimulando a atividade econômica. Para 2021, a expectativa é que a Selic termine o período em 6% ao ano. Para o fim de 2022, a previsão é 6,50% ao ano.

Quando a Selic aumenta, ocorre efeito inverso. Essas menções, mesmo enveredando pela aridez da terminologia do "economês", servem para ilustrar um quadro que, como se percebe, apresenta-se desnivelado. De um lado, um grupo de nações leva em conta melhorias significativas. No oposto, há as que contabilizam possibilidades mínimas, quando não estão em padrões negativos. É o caso do Brasil. A pendência da balança tem relações com a geopolítica, é certo, mas decorre também de ações eventualmente desastrosas tomadas por governos - submissão, hostilidades vãs, bravatas, radicalismos e preconceitos, além da inabilidade e da pouca inteligência, podem certamente ser indutores de dificuldades. Em qualquer modo diferente da prudência e de investimentos corretos, o crescimento se torna incapaz de resultar em ganhos sociais.


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