Editorial: É preciso salvar o Dnocs

EDITORIAL

Mobilizam-se entidades empresariais do Ceará no esforço de evitar a extinção do que é, sem dúvida, o organismo do Governo Federal que mais influiu - do ponto de vista físico, intelectual, técnico e científico - para o desenvolvimento econômico e social da região Nordeste: o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs). Criado em 1909 com a denominação de Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS) que, dez anos depois, mudaria para Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (IFOCS) transformada, no ano de 1945, em Departamento vinculado ao Ministério da Viação e Obras Públicas, o Dnocs projetou e construiu - ao longo dos seus 120 anos - a gigantesca e espetacular base do que é hoje a infraestrutura rodoviária, aeroportuária, de recursos hídricos, de pesquisas ictiológicas, de piscicultura, de engenharia de barragens e de irrigação do Nordeste. Dos anos 40 até os anos 80 do século passado, o Dnocs foi o centro da inteligência desta parte do Brasil.

Dos seus quadros de pessoal, fizeram parte alguns dos maiores cientistas brasileiros, entre os quais Guimarães Duque, que identificou e catalogou em livro as plantas xerófilas da flora regional. Foram os biólogos do Dnocs que, por meio da hipofisação, cruzaram espécies de tilápias importadas do Rio Nilo, de que resultou a espécie híbrida desse peixe que é hoje criado em cativeiro não apenas na geografia do Nordeste, mas também na do Sul do País - Santa Catarina e Minas Gerais produzem e abastecem de tilápia até os estados nordestinos castigados por uma prolongada crise de oferta hídrica. Foi o Dnocs que construiu as centenas de grandes e médias barragens públicas da região, as maiores das quais se localizam no Ceará. E foi ele, ainda, que instalou os perímetros de irrigação que transformaram em polos de produção de alimentos áreas degradadas do semiárido nordestino.

O Dnocs que foi orgulho dos nordestinos está hoje ameaçado de extinção. Vítima de graves equívocos e gestões manipuladas pelo que a política tem pior, o Dnocs foi abandonado pelo Governo da União. Outrora centro de excelência do serviço público federal, com um quadro de servidores do mais alto nível, o Dnocs perdeu, nos últimos quatro anos, 250 dos seus melhores técnicos e, agora, tenta desesperadamente, mas sem êxito até este momento, autorização para realizar um concurso público.

Preocupado com a nuvem negra que ameaça extingui-lo, a Federação da Agricultura do Ceará, o BNB, o Sebrae-Ceará e a Assembleia Legislativa cearense criaram uma Frente Nacional pela Manutenção e Fortalecimento do Dnocs. A intenção dessa frente é mobilizar governadores, deputados federais e senadores de todos os estados de atuação da autarquia com o objetivo de, em primeiro lugar, dar a ela a gestão da operação do Projeto São Francisco de Integração de Bacias. Em seguida, designar uma nova diretoria apartada de qualquer viés político-partidário, o que será difícil diante do aguçado interesse que desperta o seu orçamento. Salvar o Dnocs é esforço que exige união da liderança política e empresarial do Nordeste. O Governo do presidente Bolsonaro, contra o qual já se ergueram os governadores nordestinos, emitirá um sinal amistoso à região e à sua liderança política se devolver o Dnocs às suas origens.


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