Editorial: DOE DE CORAÇÃO

Dentre os significados dicionarizados do verbo doar, está o de "ofertar gratuitamente alguma coisa a alguém"; há outro que diz "demonstrar dedicação a uma causa ou pessoa". Há atos, contudo, que exigem que se recorra a ambos os significados para dar conta de sua riqueza, simbólica, ética e existencial. É o caso da doação em que a "coisa" ofertada não é outra senão uma parte de si, literalmente, e a causa é a vida de outra pessoa.

Doar órgãos e tecidos é ato que parte de uma decisão voluntária, no sentido de ofertar parte do próprio corpo - desde que tal ação não acarrete qualquer malefício ao doador - para auxiliar em tratamentos de outras pessoas. Não raro, intervenções do gênero são determinantes para a sobrevivência de enfermos de doenças graves. Órgãos, como coração, pâncreas e pulmão; e tecidos, caso de cartilagens, córnea, pele e válvulas cardíacas são transplantadas e, em caso de compatibilidade, são determinantes para cura de quadros graves de saúde.

Ainda que determinados órgãos e tecidos possam ser transplantados com o doador ainda em vida (são exemplos as operações com rins, parte do fígado e medula óssea), esta intervenção cirúrgica, de forma mais habitual, acontece após a morte do doador. O procedimento clínico só é iniciado após a confirmação da morte encefálica, quando outras partes do organismo permanecem ilesas. Recorre-se a quem expressou, em vida, o desejo de ser solidário depois dela, doando órgãos e tecidos para pessoas desconhecidas e necessitadas de uma nova chance, desde que a família autorize o procedimento.

Garantindo o direito à vida a todos os seus cidadãos, conforme explicitado na Constituição Federal de 1988, o Brasil dispõe de legislação específica para ordenar tais casos de transplante. A Lei 9.434/1997 instituiu a legalidade da remoção de partes do corpo humano com a finalidade de uso em transplantes e tratamento, caso seja de livre vontade e autorizada pelo doador ou seu familiar responsável.

Importante que se registre: o Brasil figura entre os países com maior número de transplantes realizados. Os índices continuam ascendentes. O Ceará, em particular, é uma potência que se destaca no cenário nacional. Os últimos números consolidados revelam que o Estado teve um aumento de 1,1% no número de transplantes de órgãos e tecidos em 2018, em relação ao ano anterior. Apesar desta boa performance, muito mais precisa, deve ser feito, com o envolvimento dos mais diversos setores da sociedade.

É por isso que, em setembro, o Sistema Verdes Mares abraça a causa do Movimento Doe de Coração. Iniciativa realizada anualmente pela Fundação Edson Queiroz, tem como objetivo encorajar a população para ampliar o número de doadores, por meio de ações informativas e de sensibilização. Desde a criação da campanha, em 2003, registrou-se um aumento de mais de 261,19% em transplantes, equivalente a 15 mil casos em todo o estado, de acordo com levantamento da Central Estadual de Transplantes do Ceará.

As ações começam amanhã, com a participação ativa de todas as plataformas do Sistema Verdes Mares, num convite a toda a sociedade cearense, para que abrace também esta causa solidária dedicada ao bem maior que existe: a vida.