Editorial: Doação voluntária

O drama dos dias e das noites nos hospitais costuma ser invisível aos olhos de quem, por ora, não está em contato com essa realidade. Enquanto a vida segue seu ritmo fora dali, nem sempre se tem tempo para lembrar que, lá, o difícil embate para garantir a saúde - e, não poucas vezes, também a vida - é travado. Pessoas enfermas e seus parentes e amigos sentem, na pele, o quão árduo é o cotidiano ali dentro e como ele é, necessariamente, cooperativo. Ele depende de todos os profissionais ali presentes, nas mais diversas funções; e, ainda, da população que não vive o dia a dia hospitalar.

A dependência nesse segundo caso não é exclusivamente financeira - se pensarmos apenas na rede pública de saúde, mantida a partir dos impostos pagos pelos cidadãos e instituições do País. A Saúde depende, e muito, de atos solidários regulares. O Brasil se inscreve numa região do mundo, a América Latina, onde a doação voluntária de sangue corresponde a menos de metade de todos os suprimentos disponíveis para atender uma demanda difícil de prever.

O restante do fluxo é irregular, motivado por campanhas espontâneas que circulam entre familiares e amigos sempre que alguém, por alguma razão grave e urgente, precisa de doações. Doações de sangue deste tipo, claro, são igualmente importantes. Contudo, a regularidade mantém bancos mais seguros e aumenta a qualidade do socorro prestado a quem precisa de transfusões.

Dados da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) têm sido evocados pela entidade para alertar os governos da região. É necessário que as nações desta parte do mundo adotem políticas públicas que impactem positivamente o índice. América Latina e Caribe já fizeram melhorias na segurança e na disponibilidade de sangue para transfusões, alcançando 10,5 milhões de unidades, após aumento percentual próximo a 15% em quatro anos.

No Estado, o trabalho é desenvolvido pelo Centro de Hematologia e Hemoterapia do Ceará (Hemoce), rede pública do Governo. Em média, 300 pessoas por dia se candidatam à doação nas unidades instaladas na Capital e no interior. O sangue doado chega a mais de 450 unidades de saúde em território cearense.

Bolsas de sangue são necessárias a um grande número de procedimentos médicos, como cirurgias de grande porte, tratamento de câncer e atendimentos de urgência e emergência. Não são recursos prescindíveis e, ao mesmo tempo, não são do tipo que maior aporte financeiro possa comprar. Não é exagero dizer que o que vem da consciência e da solidariedade não tem preço.

O Ministério da Saúde padronizou uma série de protocolos que precisam ser atendidos aos candidatos à doação de sangue. São critérios básicos que levam em conta o melhor para quem doa e para quem recebe transfusões. Inclui faixa-etária compatível (o mínimo de 16 anos e o máximo de 69), estar com quadro saudável e, na hora do procedimento, bem alimentado. O peso mínimo é de 50 kg. Abrange faixa ampla da população, o que indica um grande potencial a ser explorado. A doação de sangue regular é fundamental para garantir a segurança e a disponibilidade dos hemocomponentes. Estejam ou não à vista, eles não podem ser esquecidos.


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