Editorial: Diversidade e desafios políticos

O diálogo é requisito elementar para a prática política. É a chave. As consequências da ausência de diálogo são indubitavelmente desastrosas. Sem diálogo não se abrem portas, não há fazer político - o que deve ser invariavelmente pautado pela diversidade que o cidadão, com seus juízos e seus critérios, estabelece de forma legítima para suas representações, a mesma pluralidade que delas espera. E esse processo resulta no esclarecimento ou na eliminação de diferenças. Há, por isso, um sentido igualmente elevado. É o dos objetivos comuns.

A bancada eleita pelo Ceará para o Congresso Nacional, que toma posse no próximo ano, tem, frente a essas demandas, as vantagens oferecidas justamente pela diversidade na definição de estratégias para os objetivos comuns.

O ano será de desafios, como já se estima. A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), por exemplo, avalia que o fenômeno meteorológico El Niño, causado pelo aquecimento das águas do Oceano Pacífico e pela redução de ventos na Região Equatorial, pode agravar a seca no Nordeste e, por consequência natural e obrigatória, no Ceará.

Certamente, a escassez e a irregularidade de chuvas estão entre os mais graves problemas que alcançam o Estado. Afetam saúde e educação, apenas para citar referências mais frequentes. Oprimem as finanças públicas e o desenvolvimento, como reflexo adicional. Causam a migração do campo e o inchamento das cidades. Impõem, de todo modo, amarras ao crescimento compartilhado e frustram a repartição equilibrada de emprego e renda.

Já fora do contexto ambiental, mas sempre em situação acentuadamente preocupante, a segurança pública desponta sob ameaças. Pesquisas têm indicado a apreensão da sociedade com o tema, com o avanço de facções criminosas sobre comunidades, tornando mais vulneráveis e distantes as mais legítimas aspirações dos cidadãos.

A oferta de postos de trabalho se associa às provocações conjunturais e estruturais, considerando que, num quadro em que prevalece esse fundamento da economia, correspondem a efeitos da segurança com deficiência ou da seca que massacra os meios de produção. O Estado vem totalizando seguidamente saldos positivos na criação de novos empregos, numa sequência ascendente só interrompida pelo mês de fevereiro, mas os esforços sempre necessitam de acréscimos.

São, então, 22 deputados federais, além dos três senadores, que terão as tarefas de pensar e trabalhar em conjunto e de executar coletivamente, nos limites constitucionais e institucionais do Poder em que se encontram, o melhor para as organizações locais em relação. Esses representam 14 partidos, tanto à esquerda quanto ao centro e à direita, em geral com linhas programáticas distintas.

Não se pode pretender que os parlamentares devam abandonar os compromissos que firmaram com grupos que os apoiaram. Ou que devam deixar à margem os valores individuais que defenderam nas campanhas e que defendem para os mandatos que exercerão. Ao contrário. O respeito a esses compromissos é direito deles e necessita sempre ser levado em conta, com o custo do descrédito que pode enfraquecer a democracia e corroer relacionamentos.

O cenário em que a política cearense vai se movimentar a partir de 2019 não deve ser, necessariamente, o das cisões. Não vai ser o da separação pura e simples, motivada por assuntos de menor relevância ou por questões sem importância geral. A rigor, reúne todas as condições de ser um palco de aproximações, de alinhamentos e negociações.


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