Editorial: Diálogos ambientais

O mundo se depara na próxima semana em Nova York (EUA) com uma discussão inadiável: a preservação do ambiente e as consequências da degradação que se verifica contra direitos e interesses coletivos. A cúpula da Organização das Nações Unidas (ONU), com representações dos países mais integrados aos debates desse gênero e, consequentemente, com as mais expressivas participações na economia do planeta, estará presente para avaliar aspectos climáticos. O Brasil poderia ter, pela expressão que acumula, posição de protagonista nesse cenário.

Não se trata, é necessário lembrar, de mais um encontro protocolar, como os que são simplesmente balizados pelas formalidades diplomáticas. Ao contrário. Agendas como essa não costumam terminar sem consequências.

Afinal, incluem possibilidades de abordagens mais aprofundadas sobre fatos relevantes – e, no contexto atual, fatos que têm no epicentro o Brasil e a Amazônia. Desse modo, é desejável que o Governo brasileiro se manifeste na pauta oficial ou não a respeito, por exemplo, do problema das queimadas, que gerou preocupações ao redor do globo, e das soluções encaminhadas para a situação.

É certo que as temáticas das queimadas e da Amazônia, pela comoção internacional recente que causaram, terão destaque no fórum, com olhares muito atentos dos governos da Europa, mas seria justo que se posicionassem de forma estratégica nas abordagens os assuntos pertinentes à água e à utilização desse recurso, cada vez mais escasso e, por isso, cada vez de obtenção mais desafiadora.

Há, nesse contexto, uma questão que não pode nem deve ficar à margem. É a da crise hídrica – algo que o Ceará e, de resto, o Nordeste conhecem muito bem, com a sucessão de secas que alcançam as populações e, consequentemente, as estruturas da economia.

No entanto, não se sabe de intenções que tratem diretamente dessa demanda na reunião das Nações Unidas, embora seja lícito afirmar que considerações sobre o aquecimento global e a contenção desse problema, por exemplo, sejam significativamente relacionadas à da crise da água.

Mas é possível que o protagonismo do Brasil e dos Estados Unidos acabe absorvido por uma garota de apenas 16 anos de idade, a ativista sueca Greta Thunberg. Ela estará encerrando uma jornada num veleiro que partiu do Reino Unido com destino aos Estados Unidos, movida por energia solar e por mensagens sobre preservação.

O posicionamento de Greta não é apenas relevante nos fundamentos ou pelo caráter que tem. Mas pela amplitude e pela capacidade de mobilização que ela vem angariando, a despeito da pouca idade da jovem sueca. É, de fato, uma atitude política. Diferente do que muito se vê, aqui e alhures, trata-se de uma atitude aberta a visões divergentes, mas reconhecidamente política.

Greta, diferentemente de muitas personalidades com delegações e responsabilidades públicas, assumiu compromissos e parece fazer questão de defendê-los e de cumpri-los, com a isenção e a ousadia próprias da juventude.

Ela é um exemplo de que o silêncio e a omissão não podem ser justificados por argumento nenhum. Nem o da soberania nem o do desconhecimento nem o do preconceito.


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