Editorial: Desafios da rede

Trinta anos se passaram desde que foi concebida a rede mundial de computadores (ou World Wide Web/WWW, na expressão e sigla em inglês). Em março de 1989, o físico e cientista da computação Tim Berners-Lee, então empregado da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear, elaborou o projeto do que viria a ser a rede e abriu caminho para um futuro, ao mesmo tempo, promissor e imprevisível. A invenção transformou o mundo, de forma tão drástica e complexa, que é difícil esboçar o quadro global das mudanças provocadas. 

As estimativas mais recentes, de janeiro deste ano, projetam que o número de usuários da internet tenha chegado a 4,4 bilhões de pessoas – mais do que a metade da população do planeta. Ainda mais impressionante do que essa marca é o ritmo de crescimento anual que, desde 2005, costuma superar os 200 milhões de novos usuários. No último ano, a população digital teve um incremento de 500 milhões de pessoas.

A expansão é explicada pela progressiva facilitação de acesso a computadores, a imperativa modernização de países em todo o mundo e o aumento exponencial da utilização de smartphones. Essas são constantes que permitem que as pessoas usem a internet com mais frequência. A modernização de diversas áreas econômicas – dos serviços bancários à gestão do transporte público – também impulsiona o hábito de acessá-la.

O avanço não se dá de maneira uniforme em todos os lugares do mundo. A presença massiva na rede mundial de computadores depende de uma infraestrutura que ainda não está presente em todos os países, seja por razões econômicas; de controle político nas nações sob regimes autoritários; ou por conta de conflitos armados, como os que estão em curso em regiões do Oriente Médio e da África Subsaariana. Ainda assim, a tendência de crescimento é irreversível. 

O Brasil ocupa o quarto lugar em número de usuários da rede – com 150 milhões de pessoas conectadas. O número dá testemunho não apenas da infraestrutura especializada disponível no País, como de uma disposição cultural da população brasileira ao ambiente digital. Afinal, o Brasil só fica atrás, em ordem do volume de usuários, da China, da Índia e dos Estados Unidos. Os três países têm populações bem superiores à nossa, com os dois primeiros superando a marca de 1 bilhão de habitantes.
Nessas três décadas transformou-se, também, a forma de entender a rede mundial de computadores. Da clássica oposição entre apocalípticos e integrados, existente mesmo antes da criação da internet e descrita pelo pensador italiano Umberto Eco, chegou-se a uma postura de perplexidade em que, mesmo os entusiastas, se dão conta da complexidade e da ambiguidade de suas consequências.

Avança uma discussão transnacional, que reflete e é refletida por debates nacionais, sobre a necessidade e/ou viabilidade de regulações. As razões são, sobretudo, por conta dos efeitos econômicos provocados por gigantes do Vale do Silício e pelas inovações de pequenas startups que, da noite para o dia, viram mercados pelo avesso; e da nefasta influência política das redes sociais. São indagações sem respostas fáceis, mas que convidam a um uso responsável dessa tecnologia de possibilidades imensas e em expansão.