Editorial: Da importância do debate

Difícil imaginar um mês tão repleto de imprevistos, tragédias e turbulências para um Governo, em início de gestão, quanto este janeiro que se acerca do fim. Contrariando o dito popular de que o ano espera pelo Carnaval para começar, 2019, definitivamente, começou neste mês. Pode parecer óbvio, mas por vezes se tem a impressão de que as eleições de outubro de 2018 se recusam a passar. É preciso, em definitivo, virar a página, arrefecer os ânimos e abandonar o clima de disputa, que em nada contribui para o funcionamento do Brasil.

Isso não quer dizer, claro, que se possa abrir mão de uma oposição, instituição fundamental para a democracia. Feita de forma responsável, ela age pautada nas ações que o Governo toma, em representação legítima dos eleitores que confiaram seus votos naqueles que escolheram para ocupar lugares no Executivo e no Legislativo. Quando desvirtuada de sua qualidade republicana, torna-se combustível de um jogo de poder pelo poder que, via de regra, exclui os interesses do cidadão.
Um bom indicativo, em âmbito federal, das disposições para o diálogo e para o embate, é a pauta da reforma previdenciária. O cidadão deve estar atento tanto aos movimentos da situação quanto aos da oposição, dada a urgência com que o Governo Bolsonaro promete conduzir a reforma e aos impactos que esta, caso aprovada, terá na vida dos cidadãos, em curto, médio e longo prazos.

O déficit previdenciário tem sido pauta de recorrentes discussões. Reformar a Previdência Social no País é uma necessidade atestada por economistas e pela classe política há décadas. Os últimos, contudo, relutam em executá-la, por conta de sua impopularidade e o consequente desgaste do capital eleitoral que ela pode implicar. A equipe econômica de Bolsonaro repete sempre que a Reforma é indispensável e que, sem ela, é impossível seguir adiante, por conta do estado em que se encontram as contas públicas. A tarefa será das mais difíceis e sem certeza de vitória.

O Governo precisa estar preparado, ter estratégia, capacidade de diálogo e negociação e um bom projeto. Sobre o qual, aliás, já é hora que se saiba algo de concreto. Nos negócios, o segredo é fundamental; na administração pública, o é a transparência. Nessa seara, o silêncio é terreno fértil para a boataria e, no passado recente, já tivemos provas em demasia dos prejuízos que os rumores infundados são capazes de causar. 

Entrevistado pela GloboNews, há duas semanas, o governador do Estado do Ceará foi questionado quanto à sua posição sobre a reforma da Previdência. Os entrevistadores chegaram a citar o governador de São Paulo, João Doria, para quem qualquer um de seus pares, “em sã consciência”, teria que trabalhar a favor dela. Camilo foi mais prudente. Afirmou que defende, sim, uma reforma da Previdência, mas que é preciso saber, primeiramente, o teor do projeto que o Governo pretende enviar ao parlamento e ter abertura para discuti-lo. Ele citou o caso das aposentadorias rurais, prioritário para os Estados do Nordeste. 

O tortuoso janeiro de 2019 deixará marcas profundas. É de bom tom começar fevereiro com outra disposição. Um embate duro e da maior importância vem aí. Convém não turvar o campo de visão do cidadão, para que este possa saber quem está batalhando por ele.


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