Editorial: Cuidados com a dengue

A dengue é uma doença cíclica. É, por isso, uma preocupação permanente, da qual se acompanham as movimentações, passo a passo. Perdura graças à alternância de epidemias, causadas por vírus diversos uns dos outros, ainda que à população pareça uma enfermidade unívoca. O vírus causador da dengue possui quatro sorotipos, estreitamente relacionados: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Ora um predomina, ora outro e assim por diante. Os ciclos duram anos e voltam a se repetir, quando a epidemia anterior se encerra.

Os quatro sorotipos circulam nas Américas. A região atravessa um período de epidemia que tem chamado a atenção de diversos países e dos organismos internacionais. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) fez um alerta acerca da situação da América Latina e no Caribe, com crescimento do número de casos após dois anos de baixa incidência da doença na região.

Os números são expressivos, e inspiram cuidados e ações de contenção do mal dada a sua tendência ascendente. Segundo dados da atualização epidemiológica da Opas, mais de 2 milhões de pessoas contraíram a doença nos países da região, entre janeiro e julho deste ano. No período, foram confirmadas 723 mortes provocadas pela dengue. Os casos registrados são mais numerosos do que os observados em 2017 e 2018, mas ainda estão abaixo dos que foram notificados no biênio anterior. O Brasil está entre os países com maior incidência de contágio.

Na capital cearense, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) tem documentado um aumento de casos da doença. Conforme o último boletim da Célula de Vigilância Epidemiológica da Pasta, foram confirmados 2.389 pacientes com dengue neste ano. O volume é quase 100% maior do que registrado em igual período do ano passado. Contudo, a SMS que ainda há baixa transmissão da doença – os números do ano passado são considerados baixos, o que explica que aumento nesta proporção não seja suficiente para deixar o quadro em situação calamitosa. 

A preocupação atual é quanto à reaparição do sorotipo 2. O DENV-2 não era registrado no País há dez anos. No Ceará, em 2019, já foram confirmados casos de dengue provocados por esta variante do vírus. O sorotipo 2 é o mais agressivo dentre aqueles que causam a doença. É o mais letal. As autoridades de saúde pública já trabalham com perspectiva de que, em 2020, os casos possam aumentar e esse sorotipo venha a incidir com mais força no Nordeste. 

Nos demais países latino-americanos, o DENV-2 já tem sido registrado, sobretudo em pacientes com menos de 15 anos de idade – faixa etária que abrange muitas pessoas que não tiveram contato com esta variação do vírus, dada sua baixa incidência na última década. 

Após se recuperar da infecção, a pessoa adquire imunidade vitalícia contra um sorotipo em particular. No entanto, em caso de infecções subsequentes, provocadas por outros sorotipos, aumenta o risco de desenvolver formas mais graves de dengue. A prevenção, vale salientar, depende em larga medida da população, que deve adotar os cuidados bem conhecidos para eliminar locais que sirvam de criadouro para o Aedes aegypti, mosquito transmissor da dengue e de outras arboviroses. 


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