Editorial: Contra o extremismo

A semana encerra com um balanço negativo no que toca à questão da violência. Os noticiários trouxeram histórias chocantes em uma sequência vertiginosa. Antes mesmo que a consternação provocada por uma notícia arrefecesse, outra de pronto despontava e viralizava nas redes sociais. A prisão de dois suspeitos da morte da vereadora carioca Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foi menos um alívio, de quem se vê a Justiça se fazer, ainda que tardia; pois de um sinistro vislumbre de como atuam as milícias no Rio de Janeiro, movimentando grandes quantias do dinheiro e armazenando, mesmo em um condomínio de luxo, um arsenal à altura de um exército moderno.

Irrompeu então a trama macabra conduzida por dois assassinos que promoveram um massacre em uma escola de Suzano (SP). Deixaram 10 mortos, famílias destruídas pela tragédia e muitas dúvidas. As duas principais são as que indagam sobre as razões e a respeito do que pode ser feito para impedir novos casos. 
Ontem, o dia começou com notícias de dezenas de execuções, na Nova Zelândia. Um homem abriu fogo contra frequentadores de mesquitas, promovendo uma chacina com dezenas mortos. A ação foi toda transmitida ao vivo pelas redes sociais. O ponto em comum entre as vítimas era a dupla condição, de imigrantes e de devotos da fé islâmica. O principal suspeito havia publicado no mesmo dia um manifesto, expressando ideias racistas e beligerantes.

Todos esses episódios manifestam posturas de afronta ao Estado e condutas incompatíveis com a civilidade que se espera das sociedades contemporâneas. São exemplares, ainda, de ações e/ou mentalidades extremistas que, por meio da violência homicida, buscam impor suas visões de mundo. Entre as constantes, nos três episódios o ódio se faz presente com uma das forças motores das ações criminosas.

No caso de grupos criminosos, muito já se tem dito sobre a adoção de táticas terroristas, em que o poder é exercido pelo medo e o uso da força. Na morte da parlamentar carioca, além do evidente interesse em silenciar quem levantava denúncias contra as milícias e de suas relações promíscuas com agentes e lideranças políticas do Estado, foi apontada a aversão obsessiva dos suspeitos a determinado espectro político.

Os dois jovens autores do massacre em Suzano, por sua vez, eram frequentadores de fóruns na internet onde circulam livremente ideias extremistas. Nesses ambientes, não poucas vezes, foram gestados ataques contra grupos minoritários ou alvos recorrentes de preconceito – mulheres, negros, nordestinos e membros da comunidade LGBTQ+. A atmosfera que ali se respira é a que incubou o criminoso, islamofóbico e autoritário, do ataque na Nova Zelândia.

Cada um desses casos é um grito de alerta contra os riscos dos extremismos que, na história, sempre comprovaram sua vocação de máquina de morte. O problema não é simples de resolver, mas ignorá-lo é uma perigosa negligência. O embate se dá por meio das forças de segurança, que devem identificar e desarticular redutos clandestinos de ódio ao diferente; e da promoção do diálogo e do exercício da tolerância por todas as parcelas da sociedade, comprometidas com a democracia e com o convívio ético com seus semelhantes. 


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