Editorial: Conflitos nas redes

A relação atual do mundo com as redes sociais online é surpreendente o suficiente para ter figurado, anos atrás, nas páginas de um romance de ficção científica. O mundo parece caminhar em direção a uma imersão total, como nos cenários futuristas, em que a real e digital se imbricam. Recentemente, cresceram os relatos e registros de problemas graves, em âmbito pessoal e social, relativos à influência das redes sociais na vida das pessoas. Isso tem influenciado movimentos de reação a elas, desde discussões em torno da necessidade de regulação das mesmas até o ativismo solitário de apagar as contas que se mantém em estruturas do tipo. 

Não se deve minimizar esses debates, que alguns tomam por exagerados ou de simples solução. A cobertura de redes sociais online como Facebook e Instagram, que superam a marca de 1 bilhão de usuários, não pode ser ignorada, nem pelo cidadão comum, nem pelas instituições (públicas e privadas) e nem pelos governos. Todos, direta ou indiretamente, se relacionam com essas estruturas gigantescas. 

A influência das redes sociais em pleitos públicos, recentemente, deixou claro importância de se debater seus usos políticos, por conta de distorções que estes mecanismos permitem e que têm impacto direto na opinião pública. Em países como Estados Unidos, Inglaterra e Brasil, essas movimentações em ambiente digital, arquitetadas por grupos com interesses políticos, foi potencializada pelas redes sociais. O que se vendia como um canal de expressão, de vocação democrática, terminou por provocar vertigens, amplificar mentiras e influenciar a criação de cenários imprevistos, a partir da força de uma massificação da opinião que prescinde de fatos. 

Depois dessas primeiras ondas, é fácil entender que o quadro era propício. Em todo o mundo, há cerca de 3,50 bilhões de usuários de mídias sociais – 45% de toda a população do planeta. Os dados são de uma pesquisa recente produzida pela agência We Are Social, em parceria com a plataforma de mídia Hootsuite, a partir de dados de 22 milhões de usuários em 45 países. 

Os números brasileiros são igualmente altos. O mesmo estudo apontou que 140 milhões de brasileiros estão nas redes sociais, o equivalente a 66% da população nacional. O Comitê Gestor da Internet no Brasil mostra o País como um dos campeões mundiais em tempo de permanência na rede: fica em terceiro lugar, com uma média diária de nove horas e 14 minutos conectado.

De olho nisso, há uma tendência entre uma parcela dos jovens a vivenciarem o que chamam de desintoxicação digital. Trata-se de uma tomada de consciência do que pode se assemelhar a uma dependência nos meios digitais e que têm nas redes sociais seu principal chamariz. Limitação do número de redes utilizadas e saídas, definitivas ou temporárias,  delas estão entre as ações adotadas. Entre os principais motivos, estão o excesso de tempo  gasto durante o dia, a valorização da privacidade e a preocupação com a saúde emocional. 

Em nível pessoal ou coletivo, a saída – mesmo que provisória – está na busca de um uso moderado e consciente das redes sociais. Seu uso implica em condutas éticas e críticas, para as quais se deve ter como laboratório a conduta do dia a dia, conectado ou não. 


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