Editorial: Comunicação e saúde

O Ministério da Saúde lançou um alerta grave e profundamente relacionado às ondas que invadem, de forma nociva, as redes sociais na internet: as notícias falsas, ou “fake news”, têm se configurado como empecilho para a ampliação da cobertura vacinal do HPV – doença transmitida pelo papiloma, vírus humano que causa cânceres e verrugas genitais, atingindo meninos e meninas. A infecção por HPV não distingue condições sociais, se dando sexualmente ou por contato pele a pele. Há vacina contra esse mal, mas só tem eficiência se administrada na adolescência. 

Na análise do Ministério da Saúde, e sob o ponto de vista da lei, quem distribui informações inverídicas sobre esse e outros temas está, na mais amena das hipóteses, apontando uma arma letal para quem está se iniciando na vida e, além de ferir mortalmente, sentencia um largo contingente à margem do serviço público de saúde.
O perigo é, também, virtual e por vezes pode estar espreitando ou pode chegar camuflado sob os mantos da má prestação de serviços, do falso encaminhamento, da pseudo orientação.

E ressalte-se que o ingresso nas “fake news” nos caminhos da saúde não se trata de um problema limitado ao Brasil. A situação é tão acintosa e tão generalizada, oriunda de um caótico sistema de comunicação, no qual a irresponsabilidade pode se aliar a interesses eleitoreiros ou ilegais, que o Centro Internacional de Pesquisas sobre o Câncer, organismo vinculado à Organização Mundial da Saúde, divulgou no início deste mês um comunicado sobre os riscos das notícias falsas e reafirmando que a vacina é segura e indispensável para eliminar o câncer de colo do útero.

Surge, nesse cenário, mais uma preocupação: a de abrir para o maior número possível de jovens, pais e educadores o acesso às informações técnicas sobre essa e outras doenças. Como, afinal, tornar a vítima em potencial num importante aliado contra mazelas? Num agente multiplicador de informações sérias? A resposta está nas escolas. 
O ensino é um dos campos de batalha ideais para esse processo e o próprio Governo, por intermédio dos ministérios da Saúde e da Educação, instituiu o Programa Saúde na Escola, visando a incentivar a vacinação dos estudantes.

É por essas e outras razões que se insurgir contra a prevalência de “fake news” em ferramentas de mensagens e outras redes sociais é um comportamento cidadão, legalmente considerável e de compostura inquestionável. Têm-se, assim, o desafio de criar obstáculo à cultura deletéria, à semeadura de mentira.

Os meios de comunicação e as representações políticas, desde entidades sociais e corporativas a mandatos, chegando às instituições governamentais e parlamentares, estão confrontados com a demanda fundamental de disseminação de verdades, de opiniões abalizadas, de estudos solidificados. De outro modo, está-se colocando em xeque – por ação ou omissão – um dos pilares constitucionais, que é o direito à informação, preconizado em mais de um dispositivo da Carta Magna.

A produção, o apoio e a redistribuição de notícias falsas ou, ainda mesmo, a aceitação passiva e complacente de mentiras são mais do que deformidades morais. Atentam contra a Lei maior do País e podem ser considerados crimes.


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