Editorial: Compromisso político

A política diz respeito à vida em coletividade, desde a origem da palavra, que remonta à Grécia Antiga e à "pólis" (a comunidade organizada da Cidade-Estado). Nos estados modernos, com suas estruturas legais e administrativas cada vez mais complexas, o fazer político dos poderes executivos e legislativos exige prática e repertório para ser decifrado. Com os jogos de poder e seu lado mais nefasto, a corrupção e o favorecimento de grupos em detrimento de outros setores, a política chega a parecer algo encastelado, distante do homem comum. Trata-se, claro, de uma visão equivocada.

O que se discute, negocia, decide e executa nos corredores do poder dizem respeito, diretamente, ao que o cidadão vive, em seu lar, no trabalho e nos espaços públicos. A mútua influência destes dois campos sociais é clara em determinados períodos, sobretudo aqueles definidos pela sazonalidade eleitoral; e, com mais raridade, em caso de distúrbios massivos em que o clamor das ruas flerta com uma democracia mais direta, em que o recado dos asseios é mais claro e, portanto, difícil de ser ignorado.

Como se pode intuir, durante a maior parte do tempo, o cidadão tem a impressão de estar à mercê das decisões nos parlamentos e nas sedes do Poder Executivo, nas três instâncias -municipal, estadual e federal. A razão é que a influência direta sobre seus representantes, exercida no voto, não é mais possível fora do pleito.

Depende-se, portanto, do compromisso democrático de quem foi eleito; e que este enseje uma prática, que se vá além das palavras e boas intenções, criando canais de diálogo, apropriados e eficientes, para se manter em contato com a população. Mas, é importante salientar, os representantes do povo não são meros executores de vontades, captadas por seja qual for o método. Deles é exigida inteligência e capacidade, para reconhecer áreas e ações que demandam esforços prioritários, mesmo que estes não sejam apontados pela sociedade.

Cabe à classe política estar em sintonia com o que dizem pesquisadores, dos mais diversos campos do saber, para não apenas solucionar os problemas do presente, como antever os futuros e tomar medidas cabíveis para freá-los. O mesmo se dá com as potencialidades econômicas e culturais de uma cidade, estado ou País. Afinal, são áreas em permanente processo de transformação, e ignorar isso é o mesmo que optar por ficar para trás.

O Brasil é um país de contradições e de problemas complexos. Não se trata de uma abstração; pode ser sentido em todo o Ceará e no dia a dia de Fortaleza. A situação é agravada por instabilidades transnacionais e intempéries locais, por exemplo. Dito isso, não deveria ser necessário explicitar quanto o cidadão depende da classe política e que esta se comporte com a seriedade que sua posição exige.

É imperativo que os representantes eleitos pela população se distanciem de comportamentos inapropriados, e não apenas daqueles que se constituem como algum tipo de ilicitude. Também é danosa a política que, em vez de encarar problemas e desafios sérios, se perde com insignificâncias, na forma de projetos e ações que pouco contribuem para a sociedade e só chama atenção por seu grau de excentricidade.


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