Editorial: Cobertura vacinal

No Brasil, a União e as unidades federativas procuram equilibrar suas contas, esforço particularmente difícil num contexto de prolongada crise econômica. Cortando os gastos possíveis é o princípio de qualquer saída a ser perseguida. Contudo, a simples supressão de repasses não é suficiente. É necessário ter em vista a eficiência no manejo dos recursos. Deve-se ter atenção redobrada naquilo de que se precisa, necessariamente, investir.

O dito popular ensina que prevenir é melhor que remediar. A máxima, como é comum ao gênero, foi cunhada para se aplicar a uma infinidade de situações. Quando a metáfora se refere à própria área de onde foi tirada – a da saúde –, poderia-se emendar que ser previdente é não apenas melhor, mas também é mais barato. O exemplo mais conhecido é o da relação entre a oferta de água tratada e serviços de saneamento básico e os custos com tratamentos médicos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) projeta que, para cada US$ 1 investido a economia é de US$ 4,3.

Não se trata de um caso isolado, e há mesmo razões para ver nele a manifestação de um padrão a confirmar a validade do ditado. Estudo realizado pela Universidade Johns Hopkins (EUA) chegou à estimava de que, para cada US$ 1 investido em vacinação, poupava-se US$ 16 em uma série de despesas – no sistema de saúde, em perdas salariais e perdas com produtividade causadas por adoecimento e por morte. Para chegar a tal resultado, foram considerados dados repassados por 94 países.

Gastar menos e ainda obter melhor resultados é a tradução da eficiência. Como tal, é desejável para qualquer tipo de organização, esteja como estiver sua saúde financeira. Não é preciso ir longe para compreender a importância de que, no País, o serviço de saúde garanta a oferta de vacinas na rede pública. A economia é certa, tanto para o Serviço Único de Saúde (SUS), como para a rede privada complementar. 

Deve ser vista com atenção falta de algumas vacinas, em unidades de saúde básica de Fortaleza, caso da tríplice viral, que oferece cobertura contra sarampo, caxumba e rubéola. Há duas semanas, a imunização não é encontrada em dezenas de postos de saúde. A situação é agravada pela falta da mesma vacina em clínicas particulares da Capital. No que diz respeito à rede pública, a Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) diz que a carência está relacionada ao repasse insuficiente da vacina pelo Ministério da Saúde.

Diante da situação, os municípios têm direcionado as aplicações a grupos prioritários. As crianças são mais suscetíveis a doenças contagiosas, e o período escolar, com uma rotina de trânsito por ambientes repletos de pessoas, potencializa certos contágios. O impasse demanda soluções ágeis para o problema, e adoção de medidas que sejam eficazes em evitar que ele se repita. O sarampo, por exemplo, enfermidade contra a qual a vacina tríplice viral imuniza crianças, ameaça retornar forte ao País após quatro anos de sua erradicação. Casos já foram registrados, inclusive no Ceará.

Garantir vacinação na rede pública é de interesse prioritário à população, tanto como medida de saúde pública, para evitar a disseminação de doenças evitáveis; como de economia, ação previdente indispensável em tempos de crise .


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