Editorial: Cidades em reconstrução

Fortaleza precisa se reconstruir. Passada a temporada de chuvas, a cidade entrou num processo de recuperação de vias públicas e outros logradouros, tocado pela Prefeitura, que indica, pela dimensão e pela extensão que se definiram para as obras, o tamanho e a gravidade dos problemas causados pelas incomuns taxas pluviométricas verificadas no primeiro semestre de 2019. O Poder Público está cumprindo o que lhe cabe – obviamente com os recursos arrecadados do cidadão.

Segundo a Prefeitura, de janeiro a junho deste ano, já foram reparados mais de 322 mil metros quadrados de ruas e avenidas, totalizando 370 vias com intervenções de melhorias. O Município aponta que área superior a 244 mil m² foi recuperada com asfalto e mais de 77 mil m², com pedra tosca ou paralelepípedo. Até o fim do ano, projeta-se, 750 mil m² serão distribuídos pelas sete secretarias regionais da cidade.

Disso dependem fundamentos da vida urbana, como segurança, transporte público e mobilidade, saúde, receita de tributos e execução de projetos habitacionais, entre tantos outros, sem contar as atividades da iniciativa privada.

Seria legítimo avaliar que o que se registra em Fortaleza é cabível para quaisquer cidades que eventualmente tenham sido fustigadas por situações climáticas incomuns. É o caso, destacado de muitos, de Caucaia e São Gonçalo do Amarante, ambas na Região Metropolitana de Fortaleza.

E é necessário acrescentar que há, no passivo de propostas, um acumulado de demandas que certamente atravessam mandatos – não por falta de vontade política de um ou de outro gestor, deve-se reconhecer, mas por uma série de circunstâncias que variam da escassez ou da restrição de verbas aos encaminhamentos legislativos, dos posicionamentos das comunidades aos mecanismos administrativos.

No entanto, não se podem limitar análises assim aos serviços desempenhados pela gestão municipal do momento. É preciso também observar o que a sociedade está fazendo em seus fóruns de diálogo. Ou como está se comportando diante dos desafios que são de todos, sejam das instâncias públicas, das instituições corporativas ou do chamado “terceiro setor”.

Essa colocação se relaciona diretamente com o compartilhamento de responsabilidades que tanto é cobrada de todos e por todos, com o amadurecimento das pessoas frente a seus direitos e deveres. 

A compreensão desses princípios, sintetizados pela Constituição Federal no parágrafo único do artigo primeiro – “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente” – há de ser a chave para que se estabeleçam sentidos mais sólidos e consequentes de participação popular nos destinos das cidades, dos estados e da Nação.

Afinal, o exercício do poder se estende dos procedimentos comezinhos e às atitudes do cotidiano, partindo das convivências domésticas, chegando às escolas e aos ambientes de trabalho e, daí, numa progressão lógica, aos degraus mais elevados das administrações. 

É, sob qualquer leitura, uma escalada de medidas que não admite lacunas e que só se completa com o empenho geral da sociedade.


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