Editorial: Ceará e novas demandas

Ungido pela maioria dos votos dos eleitores do Estado, Camilo Santana começou seu segundo mandato como governador do Ceará. Ele tem o desafio de atender às novas demandas da população, que, acostumada aos avanços na economia, exige agora performance também qualificada na área da segurança pública que, como no resto do País – em menor ou maior escala – é uma questão prioritária a ser enfrentada. O crime organizado e suas facções avançaram e, mais do que isso, passaram a influenciar instituições, incluindo os parlamentos, como já apuraram investigações das polícias Civil e Militar e do Ministério Público do Estado. Os constantes assaltos a bancos no interior do Ceará são uma prova de que, para além de efetivos bem treinados, de armamento adequado, de automóveis e helicópteros, é necessário e urgente investir na inteligência e na tecnologia. 

O Governo do Estado tem feito isso, diz o seu secretário de Segurança, mas o resultado desse investimento ainda é modesto. Há a esperança, agora, de que o Governo da União ajudará os estados no combate científico ao crime. Essa parceria é essencial, de preferência, em curto prazo. O presidente Jair Bolsonaro, que ontem tomou posse, deu carta branca ao seu ministro da Justiça, Sérgio Moro, para fazer o que for possível para estancar não apenas a corrupção, mas também a insegurança pública. Os governos estaduais terão de conviver harmonicamente com o Federal, e muitos já deram passos neste sentido. 

O secretário Nacional de Segurança Pública escolhido pelo ministro Moro é um cearense, o general Guilherme Theophilo, o que já facilita o rápido e perfeito entendimento entre as duas instâncias. Contribui, para tal expectativa, o fato de Camilo Santana ser, reconhecidamente, um homem do diálogo. Essa vocação do governador cearense é uma vantagem comparativa, em relação a seus pares em todo o País, que – se efetivada – será levada em conta no momento em que o ministro da Justiça e seu secretário Nacional de Segurança Pública decidirem sobre a locação de recursos destinados ao estamento policial das unidades federadas da região Nordeste. 

Há outra demanda da população cearense, igualmente associada à da Segurança pública, que requer medidas rápidas e eficientes: a da melhoria do sistema carcerário. Um bom número das unidades prisionais e cadeias públicas carece de reformas e, por conta da superlotação, é necessário que novos espaços sejam construídos, incorporando não só a arquitetura, mas a moderna tecnologia que as tornem mais seguras e sirvam, de fato, para a ressocialização dos internos. O crime organizado opera de dentro dos presídios, para o que conta com a conivência de agentes públicos. Por causa disso, as penitenciárias transformaram-se em autênticas escolas do crime, atraindo para suas facções até os internos de bom comportamento. A questão penitenciária tornou-se ainda mais complexa em tempos recentes, dada a sofisticação organizacional a que chegaram os grupos que hoje atuam nos cárceres. É necessário, então, que o Governo do Ceará aproveite a janela que o Governo Federal está a abrir para encarar a questão. Uma ação conjunta das duas partes, independentemente de querelas partidárias, tem tudo para resultar em mudanças positivas para a sociedade.